domingo, 19 de dezembro de 2010

Deus Caritas est!


A homilía escutada ontem, na Missa vespertina do IV Domingo do Advento (bem como as de hoje), levou-me a reflectir sobre a Vontade de Deus e os Seus pensamentos, os Seus desígnios, porventura tantas vezes diferentes dos nossos... Projectamos tanta coisa... Também Maria Santíssima foi uma jovem com os seus sonhos; também S. José foi um homem justo que pensou no seu futuro, que projectou... No entanto, quando Deus fala, desinstala... Desinstalou Maria... e desinstalou José...

E, dizia o sacerdote, acharemos nós que foi fácil a vida de ambos? Não. Não foi nada fácil. E podemos reflectir um pouco sobre cada uma destas santíssimas personagens para concluirmos que, de facto, as suas vidas foram bem difíceis, superadas apenas pelo Puro Amor que ali habitava, neles e entre eles: o próprio Deus.

Isto leva-me a pensar o seguinte: só uma pessoa que deseja, verdadeiramente, ser santa, ser pura e purificada (juntando a isto tudo, ou não, um carácter simpático, comunicativo, humilde e simples) é que consegue, ou melhor, é que permite que Deus vença nela todos os obstáculos que se opõe à vivência da Caridade estabelecendo com outra, também assim, um círculo de Amor Único e Trinitário (não exclusivo, consoante o estado de vida...).

Sim, o eros quer-nos elevar « em êxtase » para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos (Deus Caritas est, 5).

Na realidade, eros e agape — amor ascendente e amor descendente — nunca se deixam separar completamente um do outro. Quanto mais os dois encontrarem a justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral (Deus Caritas est, 7).
 
É superiormente bela a experiência do encontro entre duas pessoas que, na simplicidade dos gestos e das palavras e num espírito filial / irmanal e de mútuo respeito (nomeadamente entre um homem e uma mulher - a complementaridade), conseguem expressar a beleza do Amor de Deus, amor divino que passa pelo humano, pois amamos no corpo, num corpo reconciliado. Refiro-me de modo particular ao dia de hoje... Um grande convívio, muitas pessoas, entre as quais muitas conhecidas. Primeiramente, surgem os temores de ter de enfrentar tanta gente e o achar que vai ser uma "perda de tempo", algo muito "banal". Mas, depois, quando começamos a redescobrir as amizades que temos, a rever pessoas que não víamos havia tempos! Oh! Renasce a alegria destes momentos de "convívio" amistoso e pleno da Caridade de Cristo. Mas, as mais significativas são aquelas pessoas que amam e se amam virginalmente. Parece algo utópico e não devemos, de facto, cair numa espiritualidade despida da humanidade. Porém, quando tal acontece, é motivo de dar graças e louvores a Deus.
 
S. José viu os seus projectos transformados, sublimados... Casar-se com uma mulher com quem deveria viver em perfeita castidade? Parece algo absurdo (e é para os casais, ao quais Deus deu a ordem da procriação; a Sagrada Família é um caso à parte). É com ele que todos os sacerdotes devem aprender a amar cada pessoa como "outro Cristo", como irmão, como irmã, como filho, como filha.
 
Amor a Deus e amor ao próximo são inseparáveis, constituem um único mandamento. Mas, ambos vivem do amor preveniente com que Deus nos amou primeiro. Deste modo, já não se trata de um « mandamento » que do exterior nos impõe o impossível, mas de uma experiência do amor proporcionada do interior, um amor que, por sua natureza, deve ser ulteriormente comunicado aos outros. O amor cresce através do amor. O amor é « divino », porque vem de Deus e nos une a Deus, e, através deste processo unificador, transforma-nos em um Nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja « tudo em todos » (Deus Caritas est, 18).
 
Que a Santíssima Virgem Maria eduque o nosso coração... Nos faça ver a beleza que há no coração dos outros, no olhar, no sorriso; em amor ágape, kenótico, oblativo; em gestos simples e breves de quem chega mas que sabe que terá logo de partir, de quem tudo tem mas sem nada possuir... Isto sim é AMIZADE vivida na CARIDADE.

Continuação de um santo Advento! Preparemo-nos para acolher devidamente o nosso Deus! A Sua graça não faltará! «Omnia possum in eo qui me confortat» (tudo posso n'Aquele que me conforta) - Fil 4, 13.


11 comentários:

Anónimo disse...

Um Santo e Feliz Natal pedindo ao Deus Menino Amor, Paz,Saúde e Pão para Todos os seus filhos Queridos...

Que o Ano de 2011 vos traga as maiores Bênçãos e Graças para O anunciarmos a todos aqueles que de nós precisam....

Jorge disse...

Ontem a tarde após assistir a um filme sobre a natividade também tive uma reflexão semenhante.
A verdade é que nós simples Homens raramente temos visão para ver a verdade divina e normalmente ficamos quase sempre presos nas nossas sombras, na nossa pequena e egoista visão do mundo e do destino. Que por vezes nem sequer questionamos o facto de talvez aquele que está dentro e acima de todo o Homem ter outra ideia para nós. Ontem no filme que vi por mero acaso, a personagem de S. José fez-me pensar bastante.

Outra coisa curiosa é como as mesmas palavras podem dar homilías tão distintas, ontem a homilía do sacerdote da minha terra foi menos profunda ou pelos meus os meus ouvidos assim ouviram as suas palavras, e para ser sincero talvez por mea culpa já nem sei bem o que ele disse, pois a meio perdi-me a imaginar e a pensar em obras e projectos de recuperação que a pequena igreja igreja de origem medieval da minha aldeia necessita. Defeito e pecado profissional.

Mariam um resto de boa semana, e que consigas o silêncio do encontro que necessitavas num ultimos comentário escrito por ti.

Mariam disse...

Sinais no mundo,

Muito obrigada pelos votos de Boas-Festas. Também para si um santo Natal e um ano 2011 repleto das bênçãos do Senhor!

Mariam disse...

Jorge,

Pois é... Para nós, simples criaturinhas (às vezes bem complicadas!!!) é difícil, muitas das vezes, perceber qual a Vontade de Deus... Pode ser, até, um longo processo..., no qual Deus sempre se vai revelando, por entre luzes e sombras.

Por acaso a homilía do sacerdote foi muito bonita e profunda (foi o Pe. Cabecinhas, presentemente capelão do Santuário de Fátima). Tudo quanto disse me tocou verdadeiramente... Foi mesmo o Divino Espírito Santo a falar através dele e a abrir o meu entendimento à Sua Palavra. No dia seguinte ouvi outra homilía, por outro sacerdote (porque no sábado não pude ir à Missa de manhã, dei catequese, fui à tarde. Logo... Missa vespertina... de Domingo)também na mesma linha de pensamento da do anterior e que veio de certa forma completar a outra: centrou-se muito na figura de S. José, das suas dúvidas, da sua equidade, da sua confiança e obediência a Deus e também na virgindade de Nossa Senhora e do amor humano como expressão concreta do Amor de Deus (foi o Pe. Francisco, também capelão do Santuário).

Quem sabe se essa distracção não foi uma inspiração para pôr mãos à obra? Bendito defeito profissional! Mas... para a próxima vais fazer um esforço para escutar com muita atenção a homilía do Padre, na confiança e na fé de que talvez o Senhor te queira dizer alguma coisa através dele. Na Sua Palavra diz sempre.

Ah! Conheço o Pe. Mário, tenho muito boa impressão dele! Já não o vejo há imenso tempo...

Também para ti, santo tempo de Advento!

Jorge disse...

Pois tens toda a razão Mariam devo fazer um esforço maior, afinal sem esforço quase nada se alcança.=)

Mas as pinturas e em geral a pequena igreja da minha aldeia esta a necessitar uma "pequena" reabilitação, sobretudo o conjunto bastante interesse de pinturas sobre o jacobeo de S.Tiago, sobretudo no contexto rural. Por acaso ate já começei a ver alguns aspectos legais sobretudo por se tratar num imóvel classificado de interesse municipal e em vias regional...aspectos que complicam na intervir mas o maior entrave será sempre a eterna questão do financiamento, ha cerca de dois anos aquando da minha benção das fitas até tive um conversa com o pároco da minha aldeia sobre o assunto...deixando de lado a desculpa que não é desculpa da minha falta de atenção em relação a homilía de Domingo.

Talvez um dos principais motivos deveu-se ao facto do orador o Padre Santos que tenho estima, mas talvez já devido á sua idade já não possui a chama de orador que por exemplo possui o Padre Mário ( que normalmente apenas oiço ao Sábado de manhã no Santuário de Nossa Senhora da Conceição, curiosamente igreja do meu baptismo também por uma série de acasos do destino, pois a igreja paroquial da minha aldeia é a de S.Tiago de Rio de Moinhos)

Pois devo admitir que talvez seja pecado do meu intelecto, mas tenho normalmente preferência pelas Homilías do Padre Mário pois sempre me fazem pensar, e não me recordo de ter ficado indeferente a nenhuma, mesmo quando andei muito afastado da instituição católica, o largo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição era o meu refugio em Vila Viçosa nos meus tempos de estudante e por consequência muitas vezes era atraído ao interior do templo pelas palavras que ecoavam no exterior.

O largo de Nossa senhora da Conceição também é outro lugar que necessita de ser tratado com outra dignidade em termos arquitectónicos ( para esse já meti mão á obra embora seja apenas um projecto por enquanto para mim por prazer e dever nas poucas horas vagas que os dias de trabalho no escritório me deixam)

Um Santo e feliz Natal para ti e para aqueles que te rodeiam.

Mariam disse...

Jorge,

Há muita riqueza patrimonial no Alentejo que deve ser reaproveitada e revalorizada. Ainda bem que tens esse gosto e os conhecimentos necessários para poderes colaborar, assim, na restauração da tua comunidade!

Sim, é muito compreensível a tua admiração pelas homilías do Pe. Mário.

Já fui a Vila Viçosa, mas, infelizmente, não vi o Santuário por dentro... Não vi o principal... Fui com pouco tempo..., tocar, se não estou em erro, num cine-teatro de lá (violoncelo, integrada numa orquestra; há uns anos).

A-Deus e um santo e feliz Natal para ti e os teus!

Jorge disse...

Sim existe muito valor Patrimonial no Alentejo e não só, Portugal em sí é uma nação rica em termos de património de diversas naturezas. não só Arquitectónico.

Tocas numa orquestra, agradável surpresa. Muito provavelmente talvez tenha assistido ao teu concerto no cine-teatro Florbela Espanca. se foi ha uns anos se te recordares um rapaz alto magro, com oculos normalmente vestido de preto e com cabelo comprido e barba era eu. Naqueles tempos era facil de identificar=) hoje com o cabelo curto já não seria tão fácil.
Mas também é possivel que o tal concerto tenha sido num dia em que estivesse em Lisboa na faculdade, mas normalmente quando posso vou aos concertos de música clássica ou erudita que acontecem em Vila Viçosa. Foste actuar no cine-teatro, talvez tivesses gostado de actuar na capela do pálacio, normalmente na última sexta-feira de cada mês existe lá um concerto.

Foste a Vila Viçosa e conseguis-te ver o santuário, é pena, sendo sincero do ponto de vista técnico e arquitectónico não é na minha opinião a igreja mais interessante da vila, mas é sem dúvida alguma aquela cuja beleza é mais profunda pois reside no seu significado espiritual e não formal ou artístico.

Um Santo Natal também para ti e para os Teus.

Mariam disse...

Jorge, uma vez mais:

Venho esclarecer um presumível equívoco: presentemente não toco em nenhuma orquestra; deixei a música clássica (erudita, no seu termo mais correcto). Cheguei a tocar na orquestra da Escola Profissional de Música de Évora e na orquestra (de câmara) da Universidade de Música da mesma cidade, o que para mim foi um grande privilégio já que tinha cerca de 16/17 anos e não era, ainda, estudante universitária. Portanto, isto foi há mais ou menos 7/8 anos. E foi por essa altura que fui a Vila Viçosa actuar nesse cine-teatro (que tem o nome de uma poetisa cujos sonetos já foram a minha companhia, noutros tempos). Não sei se te vi... Não faço ideia. Possivelmente nessa altura não estarias na faculdade. Eu estaria com um violoncelo (cuja caixa era azul, ornamentada com autocolantes) e vestida de preto com uma saia bem comprida, de concerto.

Lembro-me do Castelo e de ter andado lá por dentro a passear, do Paço Ducal (vista exterior), do grande restaurante onde fomos jantar, possivelmente um pequeno jardim (ou estarei a confundir com outro lado, não sei)...

Que Nossa Senhora, a Mãe Imaculada, sempre te proteja.

Santo Natal para ti e para os teus!

Mariam disse...

Jorge, aproveito para te dizer que acabei de fazer uma visita ao teu blog e reparei que não constava lá o comentário por mim deixado no outro dia. Não me importo nada que lá não esteja, só me admiro se o não chegaste a receber.

Santo Natal! Maranathá!

Jorge disse...

Mariam bem sobre o teu comentário no meu blog foi porque não cheguei a receber, pois sabes eu não faço filtragem de comentários, felizmente não tenho necessidade disso, nem neste blog que é pouco movimento nem no anterior que tive. Por isso quando comentas supostamente o comentário aparece logo, eu apenas recebo um mail de notificação que alguém comentou.
Por isso não fui eu que censurei nem imagino motivos para o fazer=) Deve ter havido algum problema ao enviar o comentário.

Bem um concerto da eborae musica ha 7 ou 8 anos é provavel que tenha ido, nessa altura eu teria a mesma idade que tu 16 ou 17 e ainda andava no secundário, da descrição anterior talvez ainda não tivesse barba=) Só comecei a ter barba a sério por volta dos 18.
Por acaso tenho a ideia vaga de um Violancelo com um grande autocolante azul que brilhava no escuro, mas acho que era um rapaz que o tocava e foi a menos anos, e sabes como eu normalmente ficava no fundo perto da porta...e por vezes gosto de ouvir os concertos de olhos fechado para não me distrair como aconteceu na missa de Domingo passado.

E acho que a tua memória esta correcta sobre VIla Viçosa pois existe um restaurante no meio de um pequeno jardim o nome é o ninho dos cucos.

Desculpa a curiosidade és de Évora, só respondes se quiseres, eu não sei porque motivo tinha a ideia que eras de Fátima.

Uma vez mais eu não recebi nenhum comentário deu no meu blog para além do que esta publicado.

Uma vez mais um abraço e um Santo Natal

Mariam disse...

Pois é Jorge, apesar de não gostar de expôr totalmente aqui a minha vida (as redes sociais já o permitem mais um pouco, pois só vê quem eu permito que veja), não me importo de responder à tua pergunta. Não sou natural de Évora; nem de Fátima. Vivi em Évora quase cerca de 2/3 anos (dos 15 aos 17/18). Mas, sim, a tua ideia não estava de todo errada. Contudo, sou ainda mais lá de cima, bem nortenha!

O meu violoncelo não tinha, nem tem, um autocolante azul... A caixa que o protegia era azul e com alguns autocolantes - porventura disparatados alguns deles - próprios da idade(alguns pequeninos com uma cruz ou assim brilhavam)... E tinha os cabelos compridos :), bem feminina!

Em relação aos comentários, esclareceste-me bem. Obrigada. Este blog também não é dos mais visitados. Porém, já me aconteceu receber umas mensagens estranhas, spam, em italiano e totalmente inofensivas, mas estranhas porque muito repetidas e seguidas atrás da outras.

Já percebi que és um apreciador de música!


Deus te abençoe e um santo Natal!