domingo, 24 de outubro de 2010

“Oração constante, de manhã à noite”

A verdadeira oração, a que absorve todo o indivíduo, não a favorece tanto a solidão do deserto como o recolhimento interior. (Sulco, 460)

De S. Josermaria Escrivá:

Eu, enquanto tiver alento, não cessarei de pregar a necessidade primordial de ser alma de oração – sempre! – em qualquer ocasião e nas circunstâncias mais díspares, porque Deus nunca nos abandona. Não é cristão pensar na amizade divina exclusivamente como um recurso extremo. Pode parecer-nos normal ignorar ou desprezar as pessoas que amamos? Evidentemente que não. Para os que amamos dirigimos constantemente as palavras, os desejos, os pensamentos: há como que uma presença contínua. Pois, o mesmo com Deus.

Com esta busca do Senhor, toda a nossa jornada se converte numa única conversa, íntima e confiada. Afirmei-o e escrevi-o tantas vezes, mas não me importo de o repetir, porque Nosso Senhor faz-nos ver – com o seu exemplo – que este é o comportamento certo: oração constante, de manhã à noite e da noite até de manhã. Quando tudo sai com facilidade: obrigado, meu Deus! Quando chega um momento difícil: Senhor, não me abandones! E esse Deus, manso e humilde de coração, não esquecerá os nossos rogos nem permanecerá indiferente, porque Ele afirmou: pedi e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. (Amigos de Deus, 247)

Fonte: Opus Dei

sábado, 16 de outubro de 2010

S. Margarida Maria e o Sagrado Coração de Jesus

Dos escritos autobiográficos de S. Margarida Maria Alacoque:

Estava uma vez diante do Santíssimo, achando-me com um pouco mais de vagar (que não me davam muito as ocupações de que me encarregavam), e encontrava-me toda possuída daquela divina presença, e tão fortemente, que me esqueci de mim mesma e do lugar em que estava: entreguei-me então àquele divino Espírito, pondo meu coração à mercê da força do Seu amor. Fez-me repousar por largo tempo em Seu divino peito; e ali me descobriu as maravilhas do Seu amor e os segredos insondáveis do Seu Sagrado Coração, que sempre me tinha conservado escondidos até àquele momento em que mos abriu pela primeira vez, mas de modo tão real e sensível que me não deixou lugar a nenhuma dúvida, pelos efeitos que esta graça produziu em mim. E foi do seguinte modo, segundo o meu parecer.

Disse-me Ele: «O Meu divino Coração está tão abrasado de amor para com os homens, e em particular para contigo, que, não podendo já conter em si as chamas de sua ardente caridade, precisa derramá-las por teu meio, e manifestar-se-lhes para os enriquecer de seus preciosos tesouros, que Eu te mostro a ti, os quais contêm a graça santificante, as graças salutares indispensáveis para os apartar do abismo da perdição; e escolhi-te a ti, como abismo de indignidade e ignorância, para a realização deste grande desígnio, para que tudo seja feito por Mim».

Depois pediu-me o meu coração; eu roguei-Lhe que o tomasse, o que Ele fez, e meteu-o no Seu adorável Coração, no qual mo mostrou como um atomozinho que se consumia naquela fornalha ardente. Depois, tirou-o de lá como chama viva em forma de coração, e tornou-o ao lugar donde o tinha tomado, dizendo-me: «Eis aqui, minha dilecta esposa, um precioso penhor do Meu amor, que no teu peito encerra uma pequenina centelha das mais vivas chamas dele, para te servir de coração e te consumir até ao último momento; o ardor dele não se extinguirá, nem poderá encontrar senão um pequeno refrigério numa sangria, cujo sangue eu marcarei de tal modo com minha Cruz, que essa operação te há-de trazer mais humilhação e sofrimento do que alívio».

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vossa sou, para Vós nasci...


Vossa sou, para Vós nasci,
Que quereis Senhor de mim?

Soberana Majestade,
eterna sabedoria,
bondade para a alma minha;
Deus sublime, suma bondade,
Olhai a grande vileza
que hoje nos canta amor assim:
Que quereis, Senhor, de mim?

Vossa sou, pois me criasTes,
Vossa, pois me redimisTes,
Vossa, pois me sofresTes,
Vossa, pois me chamasTes,
Vossa, pois me esperasTes,
Vossa, pois não me perdi:
Que quereis, Senhor, de mim?

Que mandais, pois, bom Senhor?
que faça tão vil criado?
que ofício lhe haveis dado
a este escravo pecador?
Eis-me aqui meu doce Amor,
doce Amor, eis-me aqui:
Que quereis, Senhor, de mim?

Eis aqui meu coração,
eu o ponho em Vossas palmas,
meu corpo, a vida, a alma,
o meu íntimo e afeição;
doce Esposo e redenção,
pois por Vós eu me ofereci:
Que quereis, Senhor, de mim?

Dai-me a morte, dai-me a vida,
dai-me saúde ou enfermidade,
honra ou desonra me dai
dai-me guerra ou paz sentida
fraqueza ou força vivida:
que a tudo digo que sim:
Que quereis, Senhor, de mim?

Dai-me riqueza ou pobreza,
dai-me consolo ou desconsolo,
dai-me alegria ou tristeza,
dai-me inferno ou dai-me o céu,
vida doce, sol sem véu,
pois a tudo me rendi:
Que quereis, Senhor, de mim?

Se quereis, dai-me oração,
se não, dai-me estiagem,
se abundância e devoção,
e se não, esterelidade.
Soberana Majestade,
só encontro paz aqui:
Que quereis, Senhor, de mim?

Dai-me, pois, sabedoria,
ou, por amor, ignorância;
dai-me anos de abundância,
ou de fome e carestia;
dai trevas ou claro dia,
revolvei-me aqui ou ali:
Que quereis, Senhor, de mim?

Se quereis que esteja folgando,
quero por amor folgar.
Se me mandais trabalhar,
quero morrer trabalhando.
Dizei: onde, como e quando?
Dizei, doce amor, e repeti:
Que quereis, Senhor, de mim?

Esteja calada ou falando,
faça fruto, ou não o faça,
mostre a lei a minha chaga,
goze do Evangelho santo;
esteja penando ou gozando,
só Vós em mim vivei:
Que quereis, Senhor, de mim?



sábado, 9 de outubro de 2010

Os pecados da Igreja...

(Escrito em português do Brasil e retirado de um site, referenciado em baixo, digno de honra e promoção pelo exaustivo trabalho totalmente alicerçado na boa e santa doutrina católica)

«Por Alice von Hildebrand

Conta-se que Napoleão, o vencedor de tantas batalhas, após ter mantido o Papa Pio VII prisioneiro em Fontainebleau por longo tempo, queria tomar a Igreja Católica sob a sua tutela para assim alcançar a hegemonia total na Europa. Com isso em mente, redigiu uma Concordata que entregou ao Secretário de Estado, o cardeal Consalvi. O imperador disse ao cardeal que voltaria no dia seguinte e que queria o documento assinado.

Depois de ler a Concordata, Consalvi informou Sua Santidade de que assinar o documento equivaleria a vender a Igreja ao Imperador da França e, por conseguinte, implorou-lhe que não o assinasse. Quando Napoleão voltou, o cardeal informou-o de que o documento não havia sido assinado. O imperador começou então a usar um dos seus conhecidos estratagemas: a intimidação. Teve uma explosão de raiva e gritou: “Se este documento não for assinado, eu destruirei a Igreja Católica Romana”. Ao que Consalvi calmamente replicou: “Majestade, se os papas, cardeais, bispos e padres não conseguiram destruir a Igreja em dezenove séculos, como Vossa Alteza espera consegui-lo durante os anos da sua vida?”

Tenho um motivo concreto para relatar esse episódio. Consalvi deixa claro que embora existam inumeráveis pecadores no seu seio, também em posições de governo, a Igreja conseguiu subsistir por ser a Esposa Imaculada de Cristo, santa e protegida pelo Espírito Santo. Como disse certa vez Hilaire Belloc, se a Igreja fosse uma instituição puramente humana, não teria sobrevivido aos muitos prelados idiotas e incompetentes que já a lideraram. Por que a Igreja sobrevive e continuará a sobreviver? A resposta é simples. Cristo nunca disse que daria líderes perfeitos à Igreja. Nunca disse que todos os membros da Igreja seriam santos. Judas era um dos Apóstolos, e todos aqueles que traem o Magistério da Esposa de Cristo tornam-se Judas. O que Nosso Senhor disse foi: As portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16, 18).

A palavra “Igreja” tem dois sentidos: um sobrenatural e outro sociológico. Para todos os não-católicos e, infelizmente, também para muitos católicos de hoje, a Igreja é uma instituição meramente humana, constituída por pecadores, uma instituição cuja história está carregada de crimes. É preocupante o fato de que o significado sobrenatural da palavra “Igreja” – a saber, a santa e imaculada Esposa de Cristo – seja totalmente desconhecido da esmagadora maioria das pessoas, e até de um alto percentual de católicos cuja formação religiosa foi negligenciada desde o Vaticano II. Por isso, quando o Papa ou algum membro da hierarquia pede perdão pelos pecados dos cristãos no passado, muitas pessoas acabam pensando que a Igreja – a instituição religiosa mais poderosa da terra – está finalmente a admitir as suas culpas e que a sua própria existência foi prejudicial à humanidade.

Na realidade, a Esposa de Cristo é a maior vítima dos pecados dos seus filhos; no entanto, é ela que implora a Deus que perdoe os pecados daqueles que pertencem ao seu corpo. É a Santa Igreja que implora a Deus que cure as feridas que esses filhos pecadores infligiram a outros, muitas vezes em nome da mesma Igreja que traíram.

Somente Deus pode perdoar os pecados; é por isso que a liturgia católica é rica em orações que invocam o perdão de Deus. As vítimas dos pecados podem (e devem) perdoar o mal que sofreram, mas não podem de forma alguma perdoar o mal moral em si, e, caso se recusem a perdoar, movidas pelo rancor e pelo ódio, Deus, que é infinitamente misericordioso, nunca nega o seu perdão àqueles que o procuram de coração contrito.

A Santa Igreja Católica não pode pecar; mas muitas vezes é a mãe dolorosa de filhos díscolos e desobedientes. Ela dá-lhes os meios de salvação, dá-lhes o pão puro da Verdade. Mas não pode forçá-los a viver os seus santos ensinamentos. Isto aplica-se tanto a papas e bispos como aos demais membros da Igreja. Cristo foi traído por um dos seus Apóstolos e negado por outro. O primeiro enforcou-se; o segundo arrependeu-se e chorou amargamente.

A distinção entre os sentidos sobrenatural e sociológico da Igreja deve ser continuamente enfatizada, pois fatalmente causa confusão quando não é explicitada com clareza.

Assim como os judeus que aderem ao ateísmo traem tragicamente o seu título de honra – serem parte do povo escolhido de Deus –, assim os católicos romanos que pisoteiam o ponto central da moralidade – amar a Deus e, por Ele, o próximo –, traem um princípio sagrado da sua fé.

Por outro lado, em nome da justiça e da verdade, é imperioso mencionar que os católicos verdadeiros (aqueles que vivem a fé e enxergam a Santa Igreja com os olhos da fé) sempre ergueram a voz contra os pecados cometidos pelos membros da Igreja. São Bernardo de Claraval condenou em termos duríssimos as perseguições que os judeus sofreram na Alemanha do século XII (cf. Ratisbonne, Vida de São Bernardo). Os missionários católicos no México e no Peru protestavam constantemente contra a brutalidade dos conquistadores, geralmente movidos pela ganância. A Igreja deve ser julgada com base naqueles que vivem os seus ensinamentos, não naqueles que os traem. Recordo-me das palavras com que um amigo meu, judeu muito ortodoxo, lamentava o fato de muitos judeus se tornarem ateus: “Se somente um judeu permanecer fiel, esse judeu é Israel”. O mesmo pode ser dito com relação à Igreja Católica; apenas as pessoas fiéis ao ensinamento de Cristo podem falar em seu nome. Ela deve ser julgada de acordo com a santidade que alguns dos seus membros alcançam, não de acordo com os pecados e crimes de inúmeros cristãos que julgam os seus ensinamentos difíceis de praticar e que por isso traem a Deus na sua vida cotidiana.

Os pecadores, aliás, estão igualmente distribuídos pelo mundo e não são uma triste prerrogativa da religião católica. Se fosse assim, estaria justificada a afirmação de um dos meus alunos judeus em Hunter, feita diante de uma sala lotada: “Teria sido melhor para o mundo que o cristianismo nunca tivesse existido”. A história julgará se o conflito atual entre judeus e muçulmanos é moralmente justificável.

Este modesto comentário foi motivado pelo que disse um rabino à televisão, um dia após o pronunciamento histórico de João Paulo II na Basílica de São Pedro, a 12 de março de 2000, quando o Santo Padre pediu perdão pelos pecados dos cristãos no passado 1. O rabino não apenas achou o pedido de desculpas de Sua Santidade “incompleto” por não mencionar explicitamente o Holocausto (esquecendo-se de mencionar que os católicos eram e são minoria na Alemanha, país basicamente protestante), como também disse que os pecados cometidos pela Igreja foram freqüentemente endossados pelos seus líderes, dando a entender que o anti-semitismo faria parte da própria natureza da Igreja.

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(1) É digno de nota que somente o Papa tenha pedido desculpas pelos pecados cometidos pelos membros da Igreja. Não deveriam fazer o mesmo os hindus, por terem praticamente erradicado o budismo da Índia e forçado os seus membros a fugir para o Tibet, a China e o Japão? Não deveriam os anglicanos pedir desculpas por terem assassinado São Thomas More, São John Fisher e São Edmund Campion, para mencionar apenas três nomes? E quanto ao extermínio de um milhão de armênios pelos turcos em 1914? Ninguém fala a respeito desse “holocausto”; ninguém parece saber dele. E o extermínio de cristãos que acontece agora no Sudão?

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Tal afirmação deixa claro que o rabino não fazia a menor idéia daquilo que os católicos entendem por Esposa Imaculada de Cristo – uma realidade que não pode ser percebida ou compreendida por aqueles que usam os óculos do secularismo. Pergunto-me quando o “mundo” considerará que a Igreja já pediu desculpas suficientes. Por séculos a Igreja tem sido o bode expiatório ideal. O que os seus acusadores fariam se ela deixasse de existir?

Aqueles que a acusam de “silêncio” não estão apenas mal informados, mas pressupõem que eles próprios seriam heróicos se estivessem na mesma situação. Como o Papa Pio XII disse a meu marido numa entrevista privada, quando ainda era Secretário de Estado: “Não se obriga ninguém a ser mártir”. Quantas pessoas se julgam heróicas sem nunca terem sido realmente testadas! Quantos judeus arriscariam a vida para salvar católicos perseguidos? Por que esquecem que milhões de católicos também pereceram nos campos de concentração? Se a Gestapo tivesse apanhado o meu marido, considerado o inimigo número um de Hitler em Viena, tê-lo-ia feito em pedaços. Ele lutava contra o nazismo em nome da Igreja e perdeu tudo porque odiava a iniqüidade. Quantas pessoas fariam o mesmo – não na sua imaginação, mas na realidade?

Também não devemos esquecer que inúmeros católicos foram (e são) perseguidos por causa da sua fé. Mas um verdadeiro católico não espera desculpas dos seus perseguidores. Perdoa os seus perseguidores, quer eles lhe peçam desculpas, quer não. Reza por eles, ama-os em nome dAquele que padeceu e morreu pelos pecados de todos. É sempre lamentável ouvir um católico dizer: “Fulano e beltrano devem-me desculpas”.

Somente a pessoa que enxerga a Santa Igreja Católica (chamada santa cada vez que o Credo é recitado) com os olhos da fé, só essa pessoa compreende com imensa gratidão que a Igreja é a Santa Esposa de Cristo, sem ruga nem mácula, por causa da santidade do seu ensinamento, porque aponta o caminho para a Vida Eterna e porque dispensa os meios da graça, ou seja, os sacramentos.

O pecado é uma realidade medonha e que os pecados cometidos por aqueles que se dizem servos de Deus são especialmente repulsivos. Nunca serão excessivamente lamentados, mas devemos ter presente que, apesar de muitos membros da Igreja serem – infelizmente – cidadãos da Cidade dos Homens e não da Cidade de Deus, a Igreja permanece santa.»


Fonte: Quadrante - Portal de Cultura

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

S. Bruno, Cartuxo...

Tu, que és meu Senhor,
Tu, cuja vontade prefiro à minha.
Não me é possível contentar-me com palavras
ao apresentar-Te a minha oração.
Escuta meu grito que Te suplica
como um imenso clamor...

Tu, de quem me constitui servo:
Te rogo com insistência
até merecer atingir Teu favor.
Pois não almejo um bem da terra;
não peço mais do que o que devo pedir:
só a Ti...

Tem piedade de mim!
E como imensa é a Tua misericórdia
e grande meu pecado, tem piedade de mim imensamente
em proporção à Tua misericórdia.

Então poderei cantar Teus louvores,
contemplando-Te, Senhor.
Te bendirei com uma bênção
que perdurará ao longo dos séculos;
Te louvarei com o louvor e a contemplação,
neste mundo e no outro,
como Maria, de quem nos diz o Evangelho,
que escolheu a parte melhor.

Amen.

- Oração atribuída a S. Bruno

Fonte: Cartuxa

domingo, 3 de outubro de 2010

Confiança...

(...) «Onde encontrar o verdadeiro pobre de espírito? é preciso procurá-lo muito longe», disse o salmista... Não diz que é preciso procurá-lo entre as almas grandes, mas «muito longe», isto é na baixeza, no nada... Ah! permaneçamos pois muito longe de tudo o que brilha, amemos a nossa pequenez, amemos nada sentir, seremos então pobres de espírito e Jesus virá procurar-nos, por muito longe  que estejamos Ele transformar-nos-á em chamas de amor... Oh! como eu queria fazer-vos compreender o que sinto!... Só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor... (Sta. Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, CT 197).