sábado, 25 de dezembro de 2010

Nativitate Domini...

Dos Sermões de São Leão Magno, papa (séc. V):

Reconhece, ó cristão, a tua dignidade

«Hoje, caríssimos irmãos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida, uma vida que destrói o temor da morte e nos infunde a alegria da eternidade prometida.

Ninguém é excluído desta felicidade, porque é comum a todos os homens a causa desta alegria: Nosso Senhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado ninguém isento de culpa, veio para nos libertar a todos. Alegre-se o santo, porque se aproxima a vitória; alegre-se o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; anime-se o gentio, porque é chamado para a vida.

(...)

Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias com um comportamento indigno da tua geração. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Não esqueças que foste libertado do poder das trevas e transferido para a luz do reino de Deus.

Pelo sacramento do Baptismo, foste transformado em templo do Espírito Santo. Não queiras expulsar com as tuas más acções tão digno hóspede, nem voltar a submeter-te à escravidão do demónio. O preço do teu resgate é o Sangue de Cristo.»


domingo, 19 de dezembro de 2010

Deus Caritas est!


A homilía escutada ontem, na Missa vespertina do IV Domingo do Advento (bem como as de hoje), levou-me a reflectir sobre a Vontade de Deus e os Seus pensamentos, os Seus desígnios, porventura tantas vezes diferentes dos nossos... Projectamos tanta coisa... Também Maria Santíssima foi uma jovem com os seus sonhos; também S. José foi um homem justo que pensou no seu futuro, que projectou... No entanto, quando Deus fala, desinstala... Desinstalou Maria... e desinstalou José...

E, dizia o sacerdote, acharemos nós que foi fácil a vida de ambos? Não. Não foi nada fácil. E podemos reflectir um pouco sobre cada uma destas santíssimas personagens para concluirmos que, de facto, as suas vidas foram bem difíceis, superadas apenas pelo Puro Amor que ali habitava, neles e entre eles: o próprio Deus.

Isto leva-me a pensar o seguinte: só uma pessoa que deseja, verdadeiramente, ser santa, ser pura e purificada (juntando a isto tudo, ou não, um carácter simpático, comunicativo, humilde e simples) é que consegue, ou melhor, é que permite que Deus vença nela todos os obstáculos que se opõe à vivência da Caridade estabelecendo com outra, também assim, um círculo de Amor Único e Trinitário (não exclusivo, consoante o estado de vida...).

Sim, o eros quer-nos elevar « em êxtase » para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos (Deus Caritas est, 5).

Na realidade, eros e agape — amor ascendente e amor descendente — nunca se deixam separar completamente um do outro. Quanto mais os dois encontrarem a justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral (Deus Caritas est, 7).
 
É superiormente bela a experiência do encontro entre duas pessoas que, na simplicidade dos gestos e das palavras e num espírito filial / irmanal e de mútuo respeito (nomeadamente entre um homem e uma mulher - a complementaridade), conseguem expressar a beleza do Amor de Deus, amor divino que passa pelo humano, pois amamos no corpo, num corpo reconciliado. Refiro-me de modo particular ao dia de hoje... Um grande convívio, muitas pessoas, entre as quais muitas conhecidas. Primeiramente, surgem os temores de ter de enfrentar tanta gente e o achar que vai ser uma "perda de tempo", algo muito "banal". Mas, depois, quando começamos a redescobrir as amizades que temos, a rever pessoas que não víamos havia tempos! Oh! Renasce a alegria destes momentos de "convívio" amistoso e pleno da Caridade de Cristo. Mas, as mais significativas são aquelas pessoas que amam e se amam virginalmente. Parece algo utópico e não devemos, de facto, cair numa espiritualidade despida da humanidade. Porém, quando tal acontece, é motivo de dar graças e louvores a Deus.
 
S. José viu os seus projectos transformados, sublimados... Casar-se com uma mulher com quem deveria viver em perfeita castidade? Parece algo absurdo (e é para os casais, ao quais Deus deu a ordem da procriação; a Sagrada Família é um caso à parte). É com ele que todos os sacerdotes devem aprender a amar cada pessoa como "outro Cristo", como irmão, como irmã, como filho, como filha.
 
Amor a Deus e amor ao próximo são inseparáveis, constituem um único mandamento. Mas, ambos vivem do amor preveniente com que Deus nos amou primeiro. Deste modo, já não se trata de um « mandamento » que do exterior nos impõe o impossível, mas de uma experiência do amor proporcionada do interior, um amor que, por sua natureza, deve ser ulteriormente comunicado aos outros. O amor cresce através do amor. O amor é « divino », porque vem de Deus e nos une a Deus, e, através deste processo unificador, transforma-nos em um Nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja « tudo em todos » (Deus Caritas est, 18).
 
Que a Santíssima Virgem Maria eduque o nosso coração... Nos faça ver a beleza que há no coração dos outros, no olhar, no sorriso; em amor ágape, kenótico, oblativo; em gestos simples e breves de quem chega mas que sabe que terá logo de partir, de quem tudo tem mas sem nada possuir... Isto sim é AMIZADE vivida na CARIDADE.

Continuação de um santo Advento! Preparemo-nos para acolher devidamente o nosso Deus! A Sua graça não faltará! «Omnia possum in eo qui me confortat» (tudo posso n'Aquele que me conforta) - Fil 4, 13.


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

S. João da Cruz: o eterno enamorado!

- Extaído do livro: «Noite Escura», de S. João da Cruz


CANÇÕES DA ALMA

Em uma noite escura
Com ânsias em amores inflamada,
Ó ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
'stando já minha casa sossegada.

Às escuras, segura,
Pela secreta escada disfarçada,
Ó ditosa ventura!
Em trevas e em celada,
'stando já minha casa sossegada.

Nessa noite ditosa,
Em segredo, porque ninguém me via,
Nem via eu qualquer coisa
Sem outra luz nem guia
Excepto a que no coração ardia.

Mas esta me guiava
Mais certeira que a luz do meio-dia,
Aonde me esperava
Quem eu p'ra mim sabia,
Em parte onde ninguém morar par'cia.

Ó noite que guiaste,
Ó noite amável mais do que a alvorada :
Ó noite que juntaste
Amado com amada,
A amada no Amado transformada!

Em meu peito florido
Que só para ele inteiro se guardava,
Ficou adormecido,
E eu o acariciava
E o abanar dos cedros refrescava.

Da ameia a brisa amena,
Quando eu seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
No colo me tocava,
E os sentidos suspensos me deixava.

Fiquei-me e esqueci-me,
O rosto reclinado sobre o Amado,
Cessou tudo e rendi-me,
Deixando meu cuidado
Em meio de açucenas olvidado.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Coração de Jesus...

Coração de Jesus: a Ti me consagro
para em Ti me perder e enfim ser encontrada
no oceano do Teu ser - consumada...


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Toda sois formosa, ó Maria!

V. Ó Maria, concebida sem pecado.
R.  Rogai por nós que recorremos a Vós.

V. Toda sois formosa, ó Maria.
R. Toda sois formosa, ó Maria.
V. E mácula original não há em Vós.
R. E mácula original não há em Vós.
V. Vós sois a glória de Jerusalém;
R. Vós a alegria de Israel.
V. Vós a honra de nosso povo;
R. Vós a advogada dos pecadores.

V. Ó Maria.
R. Ó Maria.
V. Virgem prudentíssima.
R. Mãe clementíssima.
V. Rogai por nós.
R. Intercedei por nós a Nosso Senhor Jesus Cristo.

V. Vós fostes, ó Virgem, Imaculada em Vossa Conceição.
R. Rogai por nós ao Pai, cujo Filho destes à luz.

Oremos: Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem Maria preparastes a Vosso Filho uma digna habitação, nós Vos rogamos que, assim como a preservastes de toda a mancha pela previsão da morte de seu mesmo Filho, nos concedais por sua intercessão que também puros cheguemos até Vós. Pelo mesmo Cristo senhor Nosso. Amem.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A espera virginal em tempo de Advento...

Advento é tempo de espera, de preparação para o encontro definivo com Jesus Cristo que há-de vir. É não só preparação para o encontro com Deus na hora em que Ele nos chamar a Si, como, sobretudo, a preparação para a segunda e última vinda do Redentor: a Parusia. A espiritualidade do advento assentará no desejo deste encontro e na consequente vigilância do coração, no derrubar dos fortes e das fronteiras, na contrição e conversão Àquele que É, verdadeiramente, Senhor e Dono do nosso próprio coração.

Para celebrar tão grande Festa - o Natal - é preciso esperar virginalmente o Rei que vem ao encontro da Sua anima sponsa..., a exemplo da Mulher da espera - a Santíssima Virgem Maria -, que pernoitou no silêncio da fé, em perfeito abandono e quietude d' amor. Não entendeu - aceitou - entregou-Se..., guardando tudo e tudo meditando no Seu Imaculado Coração... A Seu exemplo, também nós devemos aguardar a vinda de Cristo Jesus com coração virgem, isto é, com coração despojado, abnegado, temente e amante de Deus Criador. Coração virgem como expressão da unificação de todo o ser no Único e Essencial que é DEUS.

Através da intercessão de tão bondosa Mãe, pela escuta da voz profética de S. João Baptista e pela guarda de S. José, corramos sem desfalecer, peregrinemos leves e alegres no tempo da esperança e cantando incessantemente este cântico de súplica ao nosso Deus e Salvador: Maranathá! - Vem, Senhor Jesus!