sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sobre a fórmula do incessante acto de amor_I

11. Qual é a fórmula do incessante acto de amor?

A fórmula do incessante acto de amor ditada por Jesus à Irmã Consolata Betrone é a seguinte: Jesus, Maria, amo-Vos, salvai almas.


- Pe. Lorenzo Sales in O Coração de Jesus ao Mundo




Tratado sobre o «pequeníssimo» caminho de amor_III

8. É útil multiplicar os actos de amor perfeito?

Para a alma, é coisa santa e utilíssima, a fm de:

1. Cumprir o primeiro grande mandamento em toda a sua perfeição.

2. Exercitar, desenvolver e aperfeiçoar em nós a virtude teologal da caridade, para com ela desenvolver e aperfeiçoar todas as outras virtudes.

3. Ajudar-nos a pôr em prática a pureza de intenção em todas as nossas acções.

4. Aumentar o valor sobrenatural das nossas acções, ampliando em nós a graça santificante.

5. Aumentar o fervor dos nossos exercícios de piedade e até substituí-los quando nos são impedidos.

6. Ajudar-nos a valorizar ao máximo - para a glória de Deus, para a nossa santificação e para a salvação das almas - cada instante desta curta vida na terra.

7. Tornar mais fácil a transformação da nossa morte num holocausto de amor, depois de ter feito da nossa vida um sacrifício de amor.


9. É suficiente fazer a intenção no início do dia?

Isso apenas basta para dar valor sobrenatural às acções do dia, mas não para atingir a plenitude de vida sobrenatural ou divina que Jesus nos mereceu e quer em nós (cf. Jo 10, 10). Por outras palavras e para melhor desenvolver este conceito:

1. A intenção feita de manhã pode facilmente ser comprometida durante o dia por outras intenções menos perfeitas. A repetição frequente de actos de amor perfeito protege-nos deste perigo.

2. O amor actual é mais perfeito do que o simplesmente habitual e, portanto, valoriza mais a nossa vida espiritual.

3. Realizando frequentes actos de amor perfeito, alimentamos e aperfeiçoamos da melhor maneira a nossa vida interior - isto é, a verdadeira vida da alma -, evitando a distracção espiritual que rouba um tempo preciosíssimo para a eternidade.

4. Amar a Deus com um amor actual,  na medida em que cada um pode, faz parte - como já se disse e também veremos a seguir - da perfeição de amor com que o próprio Deus quer ser amado por nós e que está expressa no primeiro mandamento.

5. Realizar frequentes actos de amor ajuda a corresponder ao outro preceito divino que indica a «obrigação de orar sempre, sem desalecer» (1 Ts 5, 17). O acto de amor é não só a oração mais excelente, mas também - por ser breve, fácil e apenas interior - facilita admiravelmente o cumprimento deste mandamento, sem cansar excessivamente o espírito com a multiplicidade ou a complexidade das fórmulas.


10. O que se afirmou vale para todos os cristãos?

Sim, porque todos os cristãos estão obrigados a tender para a perfeição da caridade exigida pelo primeiro mandamento. Além disso, em determinados aspectos, a prática do acto de amor está mais adaptada aos leigos e às religiosas de vida activa do que às claustrais. De facto, estas são como que levadas à união incessante com Deus pelo ambiente e pela sua vida de oração; ao passo que se torna muito difícil às religiosas de vida activa e ainda mais aos leigos, em virtude da multiplicidade e da natureza das ocupações diárias e as muitas preocupações de ordem material; além disso,nem sempre lhes é possível ter muito tempo para a oração.

Um acto de amor faz-se rapidamente, não exige nenhum esforço, não interrompe a actividade externa e até vivifica e santifica para a eternidade; e a alma - ao habituar-se pouco a pouco - pode alcançar uma união com Deus cada vez mais íntima até se tornar com o tempo moralmente incessante.

Isto explica o facto de o ensino sobre o incessante acto de amor, manifestado por Jesus à Irmã Consolata Betrone e difundido através do livro O Coração de Jesus ao Mundo, ter encontrado nos fiéis uma adesão não menor do que entre as pessoas consagradas.


- Pe. Lorenzo Sales in O Coração de Jesus ao Mundo


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sancta Mariae Magdalenae, ora pro nobis!

Das homilías de São Gregório Magno (séc. VI), papa,
sobre os Evangelhos

(Hom. 25, 1-2, 4-5: L 76, 1189-1193)

Maria Madalena, quando chegou ao sepulcro e não encontrou lá o corpo do Senhor, julgou que alguém O tinha levado e foi avisar os discípulos. Estes vieram também ao sepulcro, viram e acreditaram no que essa mulher lhes dissera. Destes está escrito logo a seguir: E regressaram os discípulos para sua casa. E depois acrescenta-se: Maria, porém, estava cá fora, junto do sepulcro, a chorar.

Estes factos levam-nos a considerar a grandeza do amor que inflamava a alma desta mulher, que não se afastava do sepulcro do Senhor, mesmo depois de se terem afastado os discípulos. Procurava a quem não encontrava, chorava enquanto buscava e, abrasada no fogo do amor, sentia a ardente saudade d' Aquele que pensava ter-lhe sido roubado. Por isso, só ela O viu então, porque só ela ficou a procurá-l'O. Na verdade, a eficácia das boas obras está na perseverança, como afirma também a voz da Verdade: Quem perseverar até ao fim será salvo.

Começou a buscar e não encontrou; continuou a procurar e finalmente encontrou. Os desejos foram aumentando com a espera e fizeram que chegasse a encontrar. Porque os desejos santos crescem com a demora; mas os que esfriam com a dilação não são desejos autênticos. Todas as pessoas que chegaram à verdade, conseguiram-no porque lhes dedicaram um amor ardente. Por isso afirmou David: A minha alma tem sede do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus? Por isso também diz a Igreja no Cântico dos Cânticos: Estou ferida pelo amor. E ainda: A minha alma desfalece.

Mulher, porque choras? Quem procuras? É interrogada sobre a causa da sua dor, para que aumente o seu desejo e, ao mencionar ela o nome de quem procurava, mais se inflame no amor que Lhe tem.

Disse-lhe Jesus: Maria! Depois de a ter tratado pelo nome comum de «mulher», sem que ela O tenha reconhecido, chamou-a pelo nome próprio. Foi como se lhe dissesse abertamente: «Reconhece Aquele que te conhece a ti. Não é de modo genérico que te conheço, mas pessoalmente». Por isso Maria, ao ser chamada pelo seu nome, reconhece quem lhe falou; e imediatamente Lhe chama «Rabbúni», isto é, «Mestre». Era Ele a quem procurava externamente e era Ele quem a ensinava interiormente a  procurá-l'O.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Tratado sobre o «pequeníssimo» caminho de amor_II


Consolata Betrone, ora pro nobis!

3. O que é o amor perfeito?

1. O amor perfeito é aquele pelo qual se ama a Deus por Si mesmo e goza d'Ele. Este grau de perfeição no amor é precedido por outros dois que são: o amor inicial e o amor progressivo. O amor inicial, procurando sobretudo evitar o pecado e resistir às suas atracções, sente mais os motivos do santo temor de Deus; o amor progressivo exerce-se sobretudo nas virtudes e, no seu empenhamento, é apoiado pela esperança do prémio.

2. No desenvolvimento normal do amor, todos estes motivos se ligam harmoniosamente e a alma, acolhendo os benefícios divinos, abre-se finalmente ao amor perfeito com que o Doador é amado por si mesmo.

3. Este amor puro e perfeito é activo na virtude e vigilante pela glória de Deus.


4. É possível fazer actos de amor perfeito?

1. Não só é possível, porque representam o desenvolvimento normal do amor e da amizade com Deus, mas, quando a alma atingiu este grau, é-lhe fácil, sendo como que uma maior respiração do coração.

2. O acto de amor perfeito, mesmo nos graus inicial e progressivo, facilita o afastamento do pecado e o exercício das virtudes, porque evoca continuamente a causa suprema do amor que é a infinita Bondade de Deus.

3. Quando digo «Jesus, amo-Te» e nas dificuldades que encontro ou nas canseiras que experimento, entendo exprimir-Lhe a minha dedicação porque Ele é digno de ser amado, honrado e fielmente servido, realizo um acto de amor perfeito. A oração do Acto de Caridade ("Meu Deus, amo-Vos de todo o meu coração, porque sois infinitamente bom e, por amor de Vós, amo o próximo como a mim mesmo") exprime um acto de amor perfeito.


5. Podemos fazer um acto perfeito de amor, apenas com as nossas forças?

Como para todos os actos sobrenaturais, também para fazer um acto de amor perfeito é necessária a ajuda da graça, que Deus nunca recusa a quem quer amá-l'O, tendo Ele feito do amor um mandamento para todos (cf. Jo 15, 12).


6. O «sensível» entra na perfeição do acto de amor?

O «sensível» não é necessário à perfeição do amor. Posso amar a Deus com um amor perfeito e intensíssimo mesmo com a aridez no coração e, até, sentindo desgosto e repugnância. Para amar a Deus com um amor perfeito basta querer amá-l'O assim. Nestes casos, o acto de amor pode ser mais puro, mais generoso e, portanto, mais agradável a Deus e, por isso, mais meritório.


7. De quantas maneiras podemos fazer actos de amor perfeito?

1. Fazendo todas as coisas - mesmo as mais humildes e as que, em si próprias, são indiferentes como comer, beber e dormir - para mostrar a Deus o nosso amor (cf. 1Cor 10, 31).

2. Suportando por amor de Deus os pequenos ou grandes sofrimentos de cada dia e oferecendo-Lhe com amor os pequenos sacrifícios do dever quotidiano.

3. Repetindo durante o dia os actos de perfeito amor, tanto os internos como os externos (por exemplo, jaculatórias), desde que sejam sempre vivificados pelo amor interior.


- Pe. Lorenzo Sales in O Coração de Jesus ao Mundo

terça-feira, 12 de julho de 2011

Tratado sobre o «pequeníssimo» caminho de amor_I

1. Em que consiste o primado do acto de amor?

1. O acto de amor participa da proeminência soberana da virtude teologal da caridade, rainha de todas as virtudes enquanto sustenta, vivifica e aperfeiçoa todas as outras. A fé e a esperança são irmãs da caridade, mas acabam à porta da eternidade, porque a fé é substituída pela visão e a esperança pela posse; só o amor entra e alcança a plenitude no Céu (cf. 1Cor 13, 8.13).

2. O acto de amor é também o mais santificante, porque mais directamente e mais intimamente nos une a Deus, santidade infinita (cf. 1 Jo 4, 16).

3. Pelo mesmo motivo, o acto de amor é também o mais apostolicamente fecundo em ordem à salvação das almas.


2. Qual é o valor de um acto de amor perfeito?

1. Um acto de perfeito amor de Deus reconcilia imediatamente a alma com Deus, até a mais carregada de pecados graves, mesmo antes da absolvição sacramental, desde que tenha vontade de se confessar (cf. Concílio de Trento, Sessão XIV, cap. IV).

2. Por maioria de razão, o acto de amor perfeito nos purifica dos pecados leves (cf. 1Pd , 8).

3. Depois de uma culpa grave, o acto de amor perfeito (acompanhado da vontade de se confessar) pode devolver-nos imediatamente com a graça santificante, os nossos méritos que tinham sido perdidos e permite-nos adquirir novos, o que não poderíamos fazer, mesmo com as nossas obras boas, enquanto estivéssemos em estado de pecado.

4. O acto de amor perfeito, como qualquer acto sobrenatural, diminui as penas do purgatório e também pode obter a remissão completa, se for realizado com um fervor e uma perfeição, cuja medida só o Senhor pode conhecer (cf. São Tomás de Aquino, Summa Theologica, Suppl. q. 5. ar. 2, 3).

5. Cada acto de amor perfeito desenvolve cada vez mais um estado de união entre Deus e a alma e, portanto, a vida divina na alma.

6. Tanto cada acto de amor perfeito, como qualquer acção sobrenatural, provoca um aumento de graça santificante. Por outro lado, isto valoriza cada vez mais todas as nossas acções e, além disso, alcança-nos um aumento de glória eterna no Céu.


- Pe. Lorenzo Sales in O Coração de Jesus ao Mundo


Consolata Betrone, ora pro nobis!



quinta-feira, 7 de julho de 2011

Esclarecimento do Cardeal-Patriarca sobre a ordenação de mulheres:

(Finalmente... Se houvesse mais cuidado nas palavras seria escusado este esclarecimento. Mas ainda bem que o Cardeal-Patriarca o fez...)


1. Numa entrevista concedida à revista “Ordem dos Advogados”, a entrevistadora pôs-me a questão da ordenação de mulheres. A minha resposta provocou reacções várias e mesmo indignação. Devo confessar que nunca tratei deste assunto sistematicamente. Sempre me referi a ele ou respondendo a perguntas de entrevistadores, ou a perguntas do público no diálogo que se seguia a conferências minhas sobre variados temas. As reacções a esta entrevista obrigaram-me a olhar para o tema com mais cuidado e verifiquei que, sobretudo por não ter tido na devida conta as últimas declarações do Magistério sobre o tema, dei azo a essas reacções. Sinto-me, assim, na obrigação de expor claramente o meu pensamento, em comunhão com o Santo Padre e com o Magistério da Igreja, obrigação minha como Bispo e Pastor do Povo de Deus (cf. LG. nº 25).


2. O não conferir a mulheres o sacerdócio apostólico, através da ordenação sacerdotal, é uma tradição que radica no Novo Testamento, no próprio Jesus Cristo e na maneira como lançou as bases da Sua Igreja.

Nosso Senhor Jesus Cristo leva à plenitude a criação e dessa plenitude faz parte a harmonia de homens e mulheres, na sua diferença complementar e na sua igual dignidade, dando pleno cumprimento à narração da Criação: “Deus criou o homem à Sua Imagem; à Imagem de Deus Ele o criou; homem e mulher Ele os criou” (Gen. 1,27). Esta complementaridade do homem e da mulher na história da salvação, atinge a sua plenitude na relação de Cristo e de Maria. O lugar e a missão de Maria inspiram fortemente a Igreja, na complementaridade da missão. A contemplação de Nossa Senhora é importante para compreender o rosto feminino da Igreja.

Quando Jesus escolheu os seus Apóstolos, escolheu homens embora fosse sempre seguido por mulheres que O acompanham até à Cruz. É certo que a consideração cultural e social da mulher na sociedade judaica, não facilitaria a escolha de mulheres para a missão de apóstolos. O Santo Padre Bento XVI, no II vol. de “Jesus de Nazaré”, reconhece que, no testemunho da Ressurreição, na tradição sob a forma de profissão, são referidos apenas homens, talvez porque na tradição judaica, apenas eram aceites como testemunhas em tribunal os homens, o testemunho das mulheres sendo considerado não credível.

Esta forma de discriminação social não impede de sublinhar o papel decisivo das mulheres: “na tradição sob a forma de narração as mulheres têm um papel decisivo”. A diferença de ministério não diminui a dignidade da missão. Cito Bento XVI: “Na sua estrutura jurídica, a Igreja está fundada sobre Pedro e os onze, mas, na forma concreta da vida eclesial, são sempre as mulheres que abrem a porta ao Senhor”[1].


3. Depois do Pentecostes começa o tempo da Igreja, que continua o ministério de Jesus Cristo. A sucessão apostólica é dinamismo fundante e fundamental da Igreja nascente. Os Apóstolos impõem as mãos a homens que continuarão o seu ministério apostólico. O facto de não constarem mulheres entre estes sucessores e cooperadores, não significa uma minimização da mulher, mas a busca daquela complementaridade entre masculino e feminino, plenamente realizada na relação de Cristo com Maria. Nas Igrejas paulinas aparecem mulheres em grande relevo e com responsabilidade, quer na missão, quer na dinamização das comunidades cristãs. Mas o Apóstolo não lhes impõe as mãos. Na Igreja de Roma é conhecida a importância das “virgens” mártires.

Nestes primeiros tempos da Igreja é notória a harmonia entre o facto de o sacerdócio apostólico ser conferido a homens e a importância e dignidade das mulheres na Igreja. A dignidade fundamental de todos os fiéis procede da sua união a Jesus Cristo, o único Sacerdote. Toda a Igreja participa dessa dignidade, pois ela é um Povo Sacerdotal. A Primeira Carta de São Pedro é clara: “Vós, como pedras vivas, prestai-vos à edificação de um edifício espiritual, para um sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (2,5); “Vós sois uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, um povo adquirido, para anunciar os louvores d’Aquele que vos chamou das trevas à Sua luz admirável” (2,9).

Todos os membros da Igreja, homens e mulheres, participam desta dignidade real e sacerdotal, que exprimem sobretudo quando celebram a Eucaristia. Esta expressão supõe continuamente a presidência de Jesus Cristo, Cabeça da Igreja e Seu Senhor, que Ele exerce através do sacerdócio apostólico que, “in personna Christi”, garante a toda a Igreja a vivência da sua dignidade sacerdotal. Esta harmonia foi vivida e construída, de forma indiscutível, ao longo dos séculos. O ministério dos sacerdotes ordenados encontra a sua verdade na vivência da Igreja como Povo Sacerdotal.


4. A questão da ordenação de mulheres para o ministério do sacerdócio apostólico surge recentemente, sobretudo nos países ocidentais e explica-se por factores diversos:

* Os movimentos de promoção da mulher, que defendem, não apenas a sua dignidade, mas a sua igualdade de direitos e funções nas sociedades modernas. Os movimentos feministas concretizaram esta luta na reivindicação de as mulheres serem iguais aos homens em todas as funções da sociedade. Os critérios teológicos da grande Tradição da Igreja são substituídos por critérios culturais e sociológicos.

* A perda da consciência da dignidade sacerdotal de todos os membros da Igreja, reduzindo a expressão sacerdotal ao sacerdócio ordenado.

* A compreensão do sacerdócio ministerial como um direito e um poder, não percebendo que ninguém, homens e mulheres, podem reivindicar esse direito, mas sim aceitar o chamamento da Igreja para o serviço, que inclui o dom da própria vida.

Este dado novo da sociedade provocou uma reflexão teológica e as mais claras intervenções do Magistério sobre esta matéria. A teologia séria, num primeiro momento, valorizou esta longa tradição da Igreja, mas não excluiu que se tratasse de uma questão aberta, na atenção que se deve prestar à actuação do Espírito Santo, na busca da expressão do mistério da Igreja nas realidades novas.


5. O mais recente Magistério dos Papas interpreta esta tradição ininterrupta, que tem a sua origem em Cristo e no corpo apostólico, não apenas como uma maneira prática de proceder, podendo mudar ao ritmo da acção do Espírito Santo, mas como sendo expressão do próprio mistério da Igreja, que devemos acolher na fé. Cito o texto do Papa João Paulo II, na Carta Apostólica “Ordinatio Sacerdotalis”: “Embora a doutrina sobre a ordenação sacerdotal que deve reservar-se somente aos homens, se mantenha na Tradição constante e universal da Igreja e seja firmemente ensinada pelo Magistério nos documentos mais recentes, todavia actualmente em diversos lugares continua-se a retê-la como discutível, ou atribui-se um valor meramente disciplinar à decisão da Igreja de não admitir as mulheres à ordenação sacerdotal. Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cf. Lc. 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”.

Somos, assim, convidados a acatar o Magistério do Santo Padre, na humildade da nossa fé e continuarmos a aprofundar a relação do sacerdócio ministerial com a qualidade sacerdotal de todo o Povo de Deus e a descobrir a maneira feminina de construir a Igreja, no papel decisivo da missão das nossas irmãs mulheres.


6. Neste ano em que celebro 50 anos da minha ordenação sacerdotal, grande manifestação da bondade de Deus para comigo, foi bom prestar este esclarecimento aos meus diocesanos. Seria para mim doloroso que as minhas palavras pudessem gerar confusão na nossa adesão à Igreja e à palavra do Santo Padre. Creio que vos tenho mostrado bem que a comunhão com o Santo Padre é uma atitude absoluta no exercício do meu ministério.



Lisboa, 6 de Julho de 2011

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca


Fonte: Patriarcado de Lisboa