sábado, 25 de dezembro de 2010

Nativitate Domini...

Dos Sermões de São Leão Magno, papa (séc. V):

Reconhece, ó cristão, a tua dignidade

«Hoje, caríssimos irmãos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida, uma vida que destrói o temor da morte e nos infunde a alegria da eternidade prometida.

Ninguém é excluído desta felicidade, porque é comum a todos os homens a causa desta alegria: Nosso Senhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado ninguém isento de culpa, veio para nos libertar a todos. Alegre-se o santo, porque se aproxima a vitória; alegre-se o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; anime-se o gentio, porque é chamado para a vida.

(...)

Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias com um comportamento indigno da tua geração. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Não esqueças que foste libertado do poder das trevas e transferido para a luz do reino de Deus.

Pelo sacramento do Baptismo, foste transformado em templo do Espírito Santo. Não queiras expulsar com as tuas más acções tão digno hóspede, nem voltar a submeter-te à escravidão do demónio. O preço do teu resgate é o Sangue de Cristo.»


domingo, 19 de dezembro de 2010

Deus Caritas est!


A homilía escutada ontem, na Missa vespertina do IV Domingo do Advento (bem como as de hoje), levou-me a reflectir sobre a Vontade de Deus e os Seus pensamentos, os Seus desígnios, porventura tantas vezes diferentes dos nossos... Projectamos tanta coisa... Também Maria Santíssima foi uma jovem com os seus sonhos; também S. José foi um homem justo que pensou no seu futuro, que projectou... No entanto, quando Deus fala, desinstala... Desinstalou Maria... e desinstalou José...

E, dizia o sacerdote, acharemos nós que foi fácil a vida de ambos? Não. Não foi nada fácil. E podemos reflectir um pouco sobre cada uma destas santíssimas personagens para concluirmos que, de facto, as suas vidas foram bem difíceis, superadas apenas pelo Puro Amor que ali habitava, neles e entre eles: o próprio Deus.

Isto leva-me a pensar o seguinte: só uma pessoa que deseja, verdadeiramente, ser santa, ser pura e purificada (juntando a isto tudo, ou não, um carácter simpático, comunicativo, humilde e simples) é que consegue, ou melhor, é que permite que Deus vença nela todos os obstáculos que se opõe à vivência da Caridade estabelecendo com outra, também assim, um círculo de Amor Único e Trinitário (não exclusivo, consoante o estado de vida...).

Sim, o eros quer-nos elevar « em êxtase » para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos (Deus Caritas est, 5).

Na realidade, eros e agape — amor ascendente e amor descendente — nunca se deixam separar completamente um do outro. Quanto mais os dois encontrarem a justa unidade, embora em distintas dimensões, na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral (Deus Caritas est, 7).
 
É superiormente bela a experiência do encontro entre duas pessoas que, na simplicidade dos gestos e das palavras e num espírito filial / irmanal e de mútuo respeito (nomeadamente entre um homem e uma mulher - a complementaridade), conseguem expressar a beleza do Amor de Deus, amor divino que passa pelo humano, pois amamos no corpo, num corpo reconciliado. Refiro-me de modo particular ao dia de hoje... Um grande convívio, muitas pessoas, entre as quais muitas conhecidas. Primeiramente, surgem os temores de ter de enfrentar tanta gente e o achar que vai ser uma "perda de tempo", algo muito "banal". Mas, depois, quando começamos a redescobrir as amizades que temos, a rever pessoas que não víamos havia tempos! Oh! Renasce a alegria destes momentos de "convívio" amistoso e pleno da Caridade de Cristo. Mas, as mais significativas são aquelas pessoas que amam e se amam virginalmente. Parece algo utópico e não devemos, de facto, cair numa espiritualidade despida da humanidade. Porém, quando tal acontece, é motivo de dar graças e louvores a Deus.
 
S. José viu os seus projectos transformados, sublimados... Casar-se com uma mulher com quem deveria viver em perfeita castidade? Parece algo absurdo (e é para os casais, ao quais Deus deu a ordem da procriação; a Sagrada Família é um caso à parte). É com ele que todos os sacerdotes devem aprender a amar cada pessoa como "outro Cristo", como irmão, como irmã, como filho, como filha.
 
Amor a Deus e amor ao próximo são inseparáveis, constituem um único mandamento. Mas, ambos vivem do amor preveniente com que Deus nos amou primeiro. Deste modo, já não se trata de um « mandamento » que do exterior nos impõe o impossível, mas de uma experiência do amor proporcionada do interior, um amor que, por sua natureza, deve ser ulteriormente comunicado aos outros. O amor cresce através do amor. O amor é « divino », porque vem de Deus e nos une a Deus, e, através deste processo unificador, transforma-nos em um Nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja « tudo em todos » (Deus Caritas est, 18).
 
Que a Santíssima Virgem Maria eduque o nosso coração... Nos faça ver a beleza que há no coração dos outros, no olhar, no sorriso; em amor ágape, kenótico, oblativo; em gestos simples e breves de quem chega mas que sabe que terá logo de partir, de quem tudo tem mas sem nada possuir... Isto sim é AMIZADE vivida na CARIDADE.

Continuação de um santo Advento! Preparemo-nos para acolher devidamente o nosso Deus! A Sua graça não faltará! «Omnia possum in eo qui me confortat» (tudo posso n'Aquele que me conforta) - Fil 4, 13.


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

S. João da Cruz: o eterno enamorado!

- Extaído do livro: «Noite Escura», de S. João da Cruz


CANÇÕES DA ALMA

Em uma noite escura
Com ânsias em amores inflamada,
Ó ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
'stando já minha casa sossegada.

Às escuras, segura,
Pela secreta escada disfarçada,
Ó ditosa ventura!
Em trevas e em celada,
'stando já minha casa sossegada.

Nessa noite ditosa,
Em segredo, porque ninguém me via,
Nem via eu qualquer coisa
Sem outra luz nem guia
Excepto a que no coração ardia.

Mas esta me guiava
Mais certeira que a luz do meio-dia,
Aonde me esperava
Quem eu p'ra mim sabia,
Em parte onde ninguém morar par'cia.

Ó noite que guiaste,
Ó noite amável mais do que a alvorada :
Ó noite que juntaste
Amado com amada,
A amada no Amado transformada!

Em meu peito florido
Que só para ele inteiro se guardava,
Ficou adormecido,
E eu o acariciava
E o abanar dos cedros refrescava.

Da ameia a brisa amena,
Quando eu seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
No colo me tocava,
E os sentidos suspensos me deixava.

Fiquei-me e esqueci-me,
O rosto reclinado sobre o Amado,
Cessou tudo e rendi-me,
Deixando meu cuidado
Em meio de açucenas olvidado.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Coração de Jesus...

Coração de Jesus: a Ti me consagro
para em Ti me perder e enfim ser encontrada
no oceano do Teu ser - consumada...


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Toda sois formosa, ó Maria!

V. Ó Maria, concebida sem pecado.
R.  Rogai por nós que recorremos a Vós.

V. Toda sois formosa, ó Maria.
R. Toda sois formosa, ó Maria.
V. E mácula original não há em Vós.
R. E mácula original não há em Vós.
V. Vós sois a glória de Jerusalém;
R. Vós a alegria de Israel.
V. Vós a honra de nosso povo;
R. Vós a advogada dos pecadores.

V. Ó Maria.
R. Ó Maria.
V. Virgem prudentíssima.
R. Mãe clementíssima.
V. Rogai por nós.
R. Intercedei por nós a Nosso Senhor Jesus Cristo.

V. Vós fostes, ó Virgem, Imaculada em Vossa Conceição.
R. Rogai por nós ao Pai, cujo Filho destes à luz.

Oremos: Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem Maria preparastes a Vosso Filho uma digna habitação, nós Vos rogamos que, assim como a preservastes de toda a mancha pela previsão da morte de seu mesmo Filho, nos concedais por sua intercessão que também puros cheguemos até Vós. Pelo mesmo Cristo senhor Nosso. Amem.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A espera virginal em tempo de Advento...

Advento é tempo de espera, de preparação para o encontro definivo com Jesus Cristo que há-de vir. É não só preparação para o encontro com Deus na hora em que Ele nos chamar a Si, como, sobretudo, a preparação para a segunda e última vinda do Redentor: a Parusia. A espiritualidade do advento assentará no desejo deste encontro e na consequente vigilância do coração, no derrubar dos fortes e das fronteiras, na contrição e conversão Àquele que É, verdadeiramente, Senhor e Dono do nosso próprio coração.

Para celebrar tão grande Festa - o Natal - é preciso esperar virginalmente o Rei que vem ao encontro da Sua anima sponsa..., a exemplo da Mulher da espera - a Santíssima Virgem Maria -, que pernoitou no silêncio da fé, em perfeito abandono e quietude d' amor. Não entendeu - aceitou - entregou-Se..., guardando tudo e tudo meditando no Seu Imaculado Coração... A Seu exemplo, também nós devemos aguardar a vinda de Cristo Jesus com coração virgem, isto é, com coração despojado, abnegado, temente e amante de Deus Criador. Coração virgem como expressão da unificação de todo o ser no Único e Essencial que é DEUS.

Através da intercessão de tão bondosa Mãe, pela escuta da voz profética de S. João Baptista e pela guarda de S. José, corramos sem desfalecer, peregrinemos leves e alegres no tempo da esperança e cantando incessantemente este cântico de súplica ao nosso Deus e Salvador: Maranathá! - Vem, Senhor Jesus!

sábado, 20 de novembro de 2010

Guardar a Palavra...

Do «Último Retiro», da B. Isabel da Trindade

11º dia

O Senhor fez-me entrar num lugar espaçoso, usou de boa vontade para comigo... (Sl 17, 20). O Criador, ao ver o belo silêncio que reina na Sua criatura, contemplando-a inteiramente recolhida na solidão interior, enamora-se da sua beleza e fá-la passar a essa solidão imensa, infinita, neste lugar espaçoso cantado pelo profeta e que não é outro senão Ele mesmo: Entrarei nas profundezas do poder de Deus (Sl 70, 16). Ao falar pelo seu profeta, o Senhor disse: Conduzi-la-ei à solidão e fala-lhe-ei ao coração (Os 2, 14). Eis entrada esta alma nessa vasta solidão, em que Deus se vai fazer ouvir! A sua palavra, diz S. Paulo, é viva e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes: chega até à separação da alma e do espírito, mesmo até às articulações e à medula (Hebr 4, 12). É, pois, ela que directamente vai acabar o trabalho do despojamento na alma; porque tem de seu e de particular, operar e criar o que faz ouvir, desde que, entretanto, a alma consinta em se deixar modelar.

Não basta, contudo, ouvir esta palavra, é preciso guardá-la! E é guardando-a que a alma será «santificada na verdade», eis o desejo do Mestre: Santificai-os na verdade, a Vossa palavra é verdade (Jo 17, 17). A quem guardar a Sua palavra, não prometeu: Meu Pai amá-lo-á e nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada? (Jo 14, 23). É a Trindade inteira que habita na alma que em verdade A ama, quer dizer, que guarda a Sua palavra!... E logo que esta alma tenha compreendido esta riqueza, todas as alegrias, naturais e sobrenaturais, que lhe possam vir da parte das criarutas ou mesmo da parte de Deus, apenas mais a convidam a retornar a si mesma para gozar o Bem substancial que possui, e que não é outro senão o próprio Deus. E, assim, como diz S. João da Cruz, ela tem uma certa semelhança com o Ser divino.


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

«Não dialogues com a tentação»

Dos escritos de S. Josemaria Escrivá:

Chapinhas nas tentações, pões-te em perigo, brincas com a vista e com a imaginação, falas de... disparates. E depois assustas-te por te assaltarem dúvidas, escrúpulos, confusões, tristeza e desalento. Hás-de conceder-me que és pouco coerente. (Sulco, 132)

Havemos de fomentar nas nossas almas um verdadeiro horror ao pecado. "Senhor (repete-o de coração contrito), que nunca mais Te ofenda!". Mas não te assustes ao notar o lastro do teu pobre corpo e das paixões humanas: seria tolo e ingenuamente pueril que descobrisses agora que "isso" existe. A tua miséria não é obstáculo; é acicate para te unires mais a Deus, para O procurares com constância, porque Ele nos purifica. (Sulco, 134)

Não dialogues com a tentação. Deixa-me que to repita: tem a coragem de fugir; e a fortaleza de não experimentar a tua debilidade, vendo até onde podias chegar. Corta, sem concessões! (Sulco, 137)

Não tens desculpa nenhuma. A culpa é só tua. Se sabes (conheces-te o suficiente) que por esse caminho – com essas leituras, com essa companhia... – podes acabar no precipício, porque te obstinas em pensar que talvez seja um atalho que facilita a tua formação ou que amadurece a tua personalidade? Muda radicalmente de plano, ainda que te exija mais esforço, menos diversões ao alcance da mão. Já são horas de te portares como uma pessoa responsável. (Sulco, 138)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sancte Michael Archangele...

Sancte Michael Archangele, defende nos in prælio; contra nequitiam et insidias diaboli esto præsidium. Imperet illi Deus, supplices deprecamur: tuque, Princeps militiæ cælestis, Satanam aliosque spiritus malignos, qui ad perditionem animarum pervagantur in mundo, divina virtute in infernum detrude. Amen.


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Omnes Sancti et Sanctae Dei, intercedite pro nobis!

Ser santo é amar... é amar como Deus, é amar com o nosso coração unido ao de Jesus Cristo, ou melhor ainda, com o Seu!, o Seu em nós! Este amor, para chegar a ser verdadeiro, autêntico, tem de passar por várias provas, a uns de uma maneira a outros de outra... Porque «O Senhor flagela os que d' Ele se aproximam», purifica, santifica aquele que reconhece como filho, não para seu mal, é claro, mas para que este se desenvolva e cresça em maturidade, em santidade, para que atinja a gloriosa liberdade dos filhos de Deus e seja perfeito na Caridade. Só o Amor Misericordioso de Deus pode operar na alma, só o Seu Espírito pode acender na alma a chama do puro Amor e transformar os corações... Só Ele pode infundir Fortaleza para perseverar na fidelidade à Sua eterna aliança nos momentos de "noite" - de dúvidas, de temor, de apatia, de tribulação e tentação. Pode-se tropeçar..., cair..., mas o Amor misericordioso de Deus levanta-nos das regiões da morte, pega em nós ao colo, faz-nos repousar no Seu Coração e gozar da suavidade da Sua Paz... E, como dizem os místicos, fere... fere de amor e logo..., logo se esconde... E para quê? Para que o desejo aumente com a espera, se fortaleça e se torne autêntico... É o sofrimento de quem julga amar pouco, quando já tanto ama; é o saber-se tão miserável e indigno de tantos dons e graças; são ânsias infinitas de amar Jesus, de Lhe dar almas, de desejar a própria morte para estar com o seu Senhor, onde finalmente o poderá amar plenamente e O verá tal como Ele é. Talvez seja assim o martírio de Amor... Não importa saber... O que importa é amar... «No Coração da minha Mãe a Igreja eu serei o Amor» (S. Teresinha).

domingo, 24 de outubro de 2010

“Oração constante, de manhã à noite”

A verdadeira oração, a que absorve todo o indivíduo, não a favorece tanto a solidão do deserto como o recolhimento interior. (Sulco, 460)

De S. Josermaria Escrivá:

Eu, enquanto tiver alento, não cessarei de pregar a necessidade primordial de ser alma de oração – sempre! – em qualquer ocasião e nas circunstâncias mais díspares, porque Deus nunca nos abandona. Não é cristão pensar na amizade divina exclusivamente como um recurso extremo. Pode parecer-nos normal ignorar ou desprezar as pessoas que amamos? Evidentemente que não. Para os que amamos dirigimos constantemente as palavras, os desejos, os pensamentos: há como que uma presença contínua. Pois, o mesmo com Deus.

Com esta busca do Senhor, toda a nossa jornada se converte numa única conversa, íntima e confiada. Afirmei-o e escrevi-o tantas vezes, mas não me importo de o repetir, porque Nosso Senhor faz-nos ver – com o seu exemplo – que este é o comportamento certo: oração constante, de manhã à noite e da noite até de manhã. Quando tudo sai com facilidade: obrigado, meu Deus! Quando chega um momento difícil: Senhor, não me abandones! E esse Deus, manso e humilde de coração, não esquecerá os nossos rogos nem permanecerá indiferente, porque Ele afirmou: pedi e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. (Amigos de Deus, 247)

Fonte: Opus Dei

sábado, 16 de outubro de 2010

S. Margarida Maria e o Sagrado Coração de Jesus

Dos escritos autobiográficos de S. Margarida Maria Alacoque:

Estava uma vez diante do Santíssimo, achando-me com um pouco mais de vagar (que não me davam muito as ocupações de que me encarregavam), e encontrava-me toda possuída daquela divina presença, e tão fortemente, que me esqueci de mim mesma e do lugar em que estava: entreguei-me então àquele divino Espírito, pondo meu coração à mercê da força do Seu amor. Fez-me repousar por largo tempo em Seu divino peito; e ali me descobriu as maravilhas do Seu amor e os segredos insondáveis do Seu Sagrado Coração, que sempre me tinha conservado escondidos até àquele momento em que mos abriu pela primeira vez, mas de modo tão real e sensível que me não deixou lugar a nenhuma dúvida, pelos efeitos que esta graça produziu em mim. E foi do seguinte modo, segundo o meu parecer.

Disse-me Ele: «O Meu divino Coração está tão abrasado de amor para com os homens, e em particular para contigo, que, não podendo já conter em si as chamas de sua ardente caridade, precisa derramá-las por teu meio, e manifestar-se-lhes para os enriquecer de seus preciosos tesouros, que Eu te mostro a ti, os quais contêm a graça santificante, as graças salutares indispensáveis para os apartar do abismo da perdição; e escolhi-te a ti, como abismo de indignidade e ignorância, para a realização deste grande desígnio, para que tudo seja feito por Mim».

Depois pediu-me o meu coração; eu roguei-Lhe que o tomasse, o que Ele fez, e meteu-o no Seu adorável Coração, no qual mo mostrou como um atomozinho que se consumia naquela fornalha ardente. Depois, tirou-o de lá como chama viva em forma de coração, e tornou-o ao lugar donde o tinha tomado, dizendo-me: «Eis aqui, minha dilecta esposa, um precioso penhor do Meu amor, que no teu peito encerra uma pequenina centelha das mais vivas chamas dele, para te servir de coração e te consumir até ao último momento; o ardor dele não se extinguirá, nem poderá encontrar senão um pequeno refrigério numa sangria, cujo sangue eu marcarei de tal modo com minha Cruz, que essa operação te há-de trazer mais humilhação e sofrimento do que alívio».

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vossa sou, para Vós nasci...


Vossa sou, para Vós nasci,
Que quereis Senhor de mim?

Soberana Majestade,
eterna sabedoria,
bondade para a alma minha;
Deus sublime, suma bondade,
Olhai a grande vileza
que hoje nos canta amor assim:
Que quereis, Senhor, de mim?

Vossa sou, pois me criasTes,
Vossa, pois me redimisTes,
Vossa, pois me sofresTes,
Vossa, pois me chamasTes,
Vossa, pois me esperasTes,
Vossa, pois não me perdi:
Que quereis, Senhor, de mim?

Que mandais, pois, bom Senhor?
que faça tão vil criado?
que ofício lhe haveis dado
a este escravo pecador?
Eis-me aqui meu doce Amor,
doce Amor, eis-me aqui:
Que quereis, Senhor, de mim?

Eis aqui meu coração,
eu o ponho em Vossas palmas,
meu corpo, a vida, a alma,
o meu íntimo e afeição;
doce Esposo e redenção,
pois por Vós eu me ofereci:
Que quereis, Senhor, de mim?

Dai-me a morte, dai-me a vida,
dai-me saúde ou enfermidade,
honra ou desonra me dai
dai-me guerra ou paz sentida
fraqueza ou força vivida:
que a tudo digo que sim:
Que quereis, Senhor, de mim?

Dai-me riqueza ou pobreza,
dai-me consolo ou desconsolo,
dai-me alegria ou tristeza,
dai-me inferno ou dai-me o céu,
vida doce, sol sem véu,
pois a tudo me rendi:
Que quereis, Senhor, de mim?

Se quereis, dai-me oração,
se não, dai-me estiagem,
se abundância e devoção,
e se não, esterelidade.
Soberana Majestade,
só encontro paz aqui:
Que quereis, Senhor, de mim?

Dai-me, pois, sabedoria,
ou, por amor, ignorância;
dai-me anos de abundância,
ou de fome e carestia;
dai trevas ou claro dia,
revolvei-me aqui ou ali:
Que quereis, Senhor, de mim?

Se quereis que esteja folgando,
quero por amor folgar.
Se me mandais trabalhar,
quero morrer trabalhando.
Dizei: onde, como e quando?
Dizei, doce amor, e repeti:
Que quereis, Senhor, de mim?

Esteja calada ou falando,
faça fruto, ou não o faça,
mostre a lei a minha chaga,
goze do Evangelho santo;
esteja penando ou gozando,
só Vós em mim vivei:
Que quereis, Senhor, de mim?



sábado, 9 de outubro de 2010

Os pecados da Igreja...

(Escrito em português do Brasil e retirado de um site, referenciado em baixo, digno de honra e promoção pelo exaustivo trabalho totalmente alicerçado na boa e santa doutrina católica)

«Por Alice von Hildebrand

Conta-se que Napoleão, o vencedor de tantas batalhas, após ter mantido o Papa Pio VII prisioneiro em Fontainebleau por longo tempo, queria tomar a Igreja Católica sob a sua tutela para assim alcançar a hegemonia total na Europa. Com isso em mente, redigiu uma Concordata que entregou ao Secretário de Estado, o cardeal Consalvi. O imperador disse ao cardeal que voltaria no dia seguinte e que queria o documento assinado.

Depois de ler a Concordata, Consalvi informou Sua Santidade de que assinar o documento equivaleria a vender a Igreja ao Imperador da França e, por conseguinte, implorou-lhe que não o assinasse. Quando Napoleão voltou, o cardeal informou-o de que o documento não havia sido assinado. O imperador começou então a usar um dos seus conhecidos estratagemas: a intimidação. Teve uma explosão de raiva e gritou: “Se este documento não for assinado, eu destruirei a Igreja Católica Romana”. Ao que Consalvi calmamente replicou: “Majestade, se os papas, cardeais, bispos e padres não conseguiram destruir a Igreja em dezenove séculos, como Vossa Alteza espera consegui-lo durante os anos da sua vida?”

Tenho um motivo concreto para relatar esse episódio. Consalvi deixa claro que embora existam inumeráveis pecadores no seu seio, também em posições de governo, a Igreja conseguiu subsistir por ser a Esposa Imaculada de Cristo, santa e protegida pelo Espírito Santo. Como disse certa vez Hilaire Belloc, se a Igreja fosse uma instituição puramente humana, não teria sobrevivido aos muitos prelados idiotas e incompetentes que já a lideraram. Por que a Igreja sobrevive e continuará a sobreviver? A resposta é simples. Cristo nunca disse que daria líderes perfeitos à Igreja. Nunca disse que todos os membros da Igreja seriam santos. Judas era um dos Apóstolos, e todos aqueles que traem o Magistério da Esposa de Cristo tornam-se Judas. O que Nosso Senhor disse foi: As portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16, 18).

A palavra “Igreja” tem dois sentidos: um sobrenatural e outro sociológico. Para todos os não-católicos e, infelizmente, também para muitos católicos de hoje, a Igreja é uma instituição meramente humana, constituída por pecadores, uma instituição cuja história está carregada de crimes. É preocupante o fato de que o significado sobrenatural da palavra “Igreja” – a saber, a santa e imaculada Esposa de Cristo – seja totalmente desconhecido da esmagadora maioria das pessoas, e até de um alto percentual de católicos cuja formação religiosa foi negligenciada desde o Vaticano II. Por isso, quando o Papa ou algum membro da hierarquia pede perdão pelos pecados dos cristãos no passado, muitas pessoas acabam pensando que a Igreja – a instituição religiosa mais poderosa da terra – está finalmente a admitir as suas culpas e que a sua própria existência foi prejudicial à humanidade.

Na realidade, a Esposa de Cristo é a maior vítima dos pecados dos seus filhos; no entanto, é ela que implora a Deus que perdoe os pecados daqueles que pertencem ao seu corpo. É a Santa Igreja que implora a Deus que cure as feridas que esses filhos pecadores infligiram a outros, muitas vezes em nome da mesma Igreja que traíram.

Somente Deus pode perdoar os pecados; é por isso que a liturgia católica é rica em orações que invocam o perdão de Deus. As vítimas dos pecados podem (e devem) perdoar o mal que sofreram, mas não podem de forma alguma perdoar o mal moral em si, e, caso se recusem a perdoar, movidas pelo rancor e pelo ódio, Deus, que é infinitamente misericordioso, nunca nega o seu perdão àqueles que o procuram de coração contrito.

A Santa Igreja Católica não pode pecar; mas muitas vezes é a mãe dolorosa de filhos díscolos e desobedientes. Ela dá-lhes os meios de salvação, dá-lhes o pão puro da Verdade. Mas não pode forçá-los a viver os seus santos ensinamentos. Isto aplica-se tanto a papas e bispos como aos demais membros da Igreja. Cristo foi traído por um dos seus Apóstolos e negado por outro. O primeiro enforcou-se; o segundo arrependeu-se e chorou amargamente.

A distinção entre os sentidos sobrenatural e sociológico da Igreja deve ser continuamente enfatizada, pois fatalmente causa confusão quando não é explicitada com clareza.

Assim como os judeus que aderem ao ateísmo traem tragicamente o seu título de honra – serem parte do povo escolhido de Deus –, assim os católicos romanos que pisoteiam o ponto central da moralidade – amar a Deus e, por Ele, o próximo –, traem um princípio sagrado da sua fé.

Por outro lado, em nome da justiça e da verdade, é imperioso mencionar que os católicos verdadeiros (aqueles que vivem a fé e enxergam a Santa Igreja com os olhos da fé) sempre ergueram a voz contra os pecados cometidos pelos membros da Igreja. São Bernardo de Claraval condenou em termos duríssimos as perseguições que os judeus sofreram na Alemanha do século XII (cf. Ratisbonne, Vida de São Bernardo). Os missionários católicos no México e no Peru protestavam constantemente contra a brutalidade dos conquistadores, geralmente movidos pela ganância. A Igreja deve ser julgada com base naqueles que vivem os seus ensinamentos, não naqueles que os traem. Recordo-me das palavras com que um amigo meu, judeu muito ortodoxo, lamentava o fato de muitos judeus se tornarem ateus: “Se somente um judeu permanecer fiel, esse judeu é Israel”. O mesmo pode ser dito com relação à Igreja Católica; apenas as pessoas fiéis ao ensinamento de Cristo podem falar em seu nome. Ela deve ser julgada de acordo com a santidade que alguns dos seus membros alcançam, não de acordo com os pecados e crimes de inúmeros cristãos que julgam os seus ensinamentos difíceis de praticar e que por isso traem a Deus na sua vida cotidiana.

Os pecadores, aliás, estão igualmente distribuídos pelo mundo e não são uma triste prerrogativa da religião católica. Se fosse assim, estaria justificada a afirmação de um dos meus alunos judeus em Hunter, feita diante de uma sala lotada: “Teria sido melhor para o mundo que o cristianismo nunca tivesse existido”. A história julgará se o conflito atual entre judeus e muçulmanos é moralmente justificável.

Este modesto comentário foi motivado pelo que disse um rabino à televisão, um dia após o pronunciamento histórico de João Paulo II na Basílica de São Pedro, a 12 de março de 2000, quando o Santo Padre pediu perdão pelos pecados dos cristãos no passado 1. O rabino não apenas achou o pedido de desculpas de Sua Santidade “incompleto” por não mencionar explicitamente o Holocausto (esquecendo-se de mencionar que os católicos eram e são minoria na Alemanha, país basicamente protestante), como também disse que os pecados cometidos pela Igreja foram freqüentemente endossados pelos seus líderes, dando a entender que o anti-semitismo faria parte da própria natureza da Igreja.

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(1) É digno de nota que somente o Papa tenha pedido desculpas pelos pecados cometidos pelos membros da Igreja. Não deveriam fazer o mesmo os hindus, por terem praticamente erradicado o budismo da Índia e forçado os seus membros a fugir para o Tibet, a China e o Japão? Não deveriam os anglicanos pedir desculpas por terem assassinado São Thomas More, São John Fisher e São Edmund Campion, para mencionar apenas três nomes? E quanto ao extermínio de um milhão de armênios pelos turcos em 1914? Ninguém fala a respeito desse “holocausto”; ninguém parece saber dele. E o extermínio de cristãos que acontece agora no Sudão?

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Tal afirmação deixa claro que o rabino não fazia a menor idéia daquilo que os católicos entendem por Esposa Imaculada de Cristo – uma realidade que não pode ser percebida ou compreendida por aqueles que usam os óculos do secularismo. Pergunto-me quando o “mundo” considerará que a Igreja já pediu desculpas suficientes. Por séculos a Igreja tem sido o bode expiatório ideal. O que os seus acusadores fariam se ela deixasse de existir?

Aqueles que a acusam de “silêncio” não estão apenas mal informados, mas pressupõem que eles próprios seriam heróicos se estivessem na mesma situação. Como o Papa Pio XII disse a meu marido numa entrevista privada, quando ainda era Secretário de Estado: “Não se obriga ninguém a ser mártir”. Quantas pessoas se julgam heróicas sem nunca terem sido realmente testadas! Quantos judeus arriscariam a vida para salvar católicos perseguidos? Por que esquecem que milhões de católicos também pereceram nos campos de concentração? Se a Gestapo tivesse apanhado o meu marido, considerado o inimigo número um de Hitler em Viena, tê-lo-ia feito em pedaços. Ele lutava contra o nazismo em nome da Igreja e perdeu tudo porque odiava a iniqüidade. Quantas pessoas fariam o mesmo – não na sua imaginação, mas na realidade?

Também não devemos esquecer que inúmeros católicos foram (e são) perseguidos por causa da sua fé. Mas um verdadeiro católico não espera desculpas dos seus perseguidores. Perdoa os seus perseguidores, quer eles lhe peçam desculpas, quer não. Reza por eles, ama-os em nome dAquele que padeceu e morreu pelos pecados de todos. É sempre lamentável ouvir um católico dizer: “Fulano e beltrano devem-me desculpas”.

Somente a pessoa que enxerga a Santa Igreja Católica (chamada santa cada vez que o Credo é recitado) com os olhos da fé, só essa pessoa compreende com imensa gratidão que a Igreja é a Santa Esposa de Cristo, sem ruga nem mácula, por causa da santidade do seu ensinamento, porque aponta o caminho para a Vida Eterna e porque dispensa os meios da graça, ou seja, os sacramentos.

O pecado é uma realidade medonha e que os pecados cometidos por aqueles que se dizem servos de Deus são especialmente repulsivos. Nunca serão excessivamente lamentados, mas devemos ter presente que, apesar de muitos membros da Igreja serem – infelizmente – cidadãos da Cidade dos Homens e não da Cidade de Deus, a Igreja permanece santa.»


Fonte: Quadrante - Portal de Cultura

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

S. Bruno, Cartuxo...

Tu, que és meu Senhor,
Tu, cuja vontade prefiro à minha.
Não me é possível contentar-me com palavras
ao apresentar-Te a minha oração.
Escuta meu grito que Te suplica
como um imenso clamor...

Tu, de quem me constitui servo:
Te rogo com insistência
até merecer atingir Teu favor.
Pois não almejo um bem da terra;
não peço mais do que o que devo pedir:
só a Ti...

Tem piedade de mim!
E como imensa é a Tua misericórdia
e grande meu pecado, tem piedade de mim imensamente
em proporção à Tua misericórdia.

Então poderei cantar Teus louvores,
contemplando-Te, Senhor.
Te bendirei com uma bênção
que perdurará ao longo dos séculos;
Te louvarei com o louvor e a contemplação,
neste mundo e no outro,
como Maria, de quem nos diz o Evangelho,
que escolheu a parte melhor.

Amen.

- Oração atribuída a S. Bruno

Fonte: Cartuxa

domingo, 3 de outubro de 2010

Confiança...

(...) «Onde encontrar o verdadeiro pobre de espírito? é preciso procurá-lo muito longe», disse o salmista... Não diz que é preciso procurá-lo entre as almas grandes, mas «muito longe», isto é na baixeza, no nada... Ah! permaneçamos pois muito longe de tudo o que brilha, amemos a nossa pequenez, amemos nada sentir, seremos então pobres de espírito e Jesus virá procurar-nos, por muito longe  que estejamos Ele transformar-nos-á em chamas de amor... Oh! como eu queria fazer-vos compreender o que sinto!... Só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor... (Sta. Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, CT 197).


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Arcanjos S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael, intercedei por nós!

Das Homilias de São Gregório Magno, papa, sobre os Evangelhos (Hom. 34, 8-9: PL 76, 1250-1251) (Sec. VI)

A palavra «Anjo» designa a sua função, não a sua natureza. Deveis saber que a palavra «Anjo» designa uma função, não uma natureza. Na verdade, aqueles santos espíritos da pátria celeste são sempre espíritos, mas nem sempre se podem chamar Anjos. Só são Anjos quando exercem a função de mensageiros. Os que transmitem mensagens de menor importância chamam-se Anjos; os que transmitem mensagens de maior transcendência chamam-se Arcanjos. Esta é a razão pela qual à Virgem Maria não foi enviado um Anjo qualquer mas o Arcanjo Gabriel; de facto, era justo que para esta missão fosse enviado um Anjo superior, porque vinha anunciar a maior de todas as mensagens. É pela mesma razão que se lhes atribuem nomes particulares, que designam a missão respectiva que desempenham. Na santa cidade do Céu, onde a visão de Deus omnipotente dá um perfeito conhecimento de tudo, não precisam de nomes próprios para se distinguirem uns dos outros; mas quando vêm realizar alguma missão junto dos homens, são conhecidos pelo nome da função que exercem. Assim, Miguel significa «Quem como Deus?»; Gabriel, «Fortaleza de Deus»; e Rafael, «Medicina de Deus». Quando se trata de realizar algum mistério que exige um poder especial, verifica se que é Miguel o enviado, para dar a entender, pela sua acção e pelo seu nome, que ninguém pode actuar como Deus. Por isso aquele antigo inimigo, que pela sua soberba pretendeu ser semelhante a Deus, dizendo: Subirei até ao céu, levantarei o meu trono acima dos astros do céu e serei semelhante ao Altíssimo, será abandonado a si mesmo no fim do mundo e condenado ao extremo suplício. É este que São João no Apocalipse nos apresenta a combater contra o Arcanjo Miguel: Travou-se um combate no Céu contra o Arcanjo Miguel. A Maria foi enviado Gabriel, que significa «Fortaleza de Deus», porque veio anunciar Aquele que, apesar da sua aparência humilde, havia de triunfar sobre os poderes superiores. Convinha, de facto, ser anunciado pela «Fortaleza de Deus» Aquele que vinha ao mundo como Senhor dos Exércitos e poderoso das batalhas. Rafael, como dissemos, quer dizer «Medicina de Deus», como se compreende na missão que teve junto de Tobias: tocou lhe os olhos como um médico e dissipou as trevas da sua cegueira. Por isso, aquele que foi enviado para curar, é chamado «Medicina de Deus».

domingo, 26 de setembro de 2010

A linguagem do corpo (por Christopher West)


Para todos: catequistas, pais, jovens, casais, celibatários, etc. 




segunda-feira, 13 de setembro de 2010

13 de Setembro: a quinta Aparição

Das «Memórias da Irmã Lúcia» (pp. 169 - 171):

Dia 13 de Setembro de 1917 - ao aproximar-se  a hora, lá fui, com a  Jacinta e o Francisco, entre numerosas pessoas que a custo nos deixavam andar. As estradas estavam apinhadas de gente. Todos nos queriam ver e falar. Ali não havia respeito humano. Numerosas pessoas, e até senhoras e cavalheiros, conseguindo romper por entre a multidão que à nossa volta se apinhava, vinham prostrar-se, de joelhos, diante de nós, pedindo que apresentássemos a Nossa Senhora as suas necessidades. Outros, não conseguindo chegar junto de nós, chamavam de longe:

- Pelo amor de Deus! peçam a Nossa Senhora que me cure meu filho, que é aleijadinho!
Outro:
- Que me cure o meu, que é cego!
Outro:
- O meu, que é surdo!
- Que me traga meu marido...
- ... meu filho, que anda na guerra!
- Que me converta um pecador!
-Que me dê saúde, que estou tuberculoso!

Etc., etc.
Ali apareciam todas (as) misérias da pobre humanidade. (...) Chegámos, por fim, à Cova da Iria, junto da carrasqueira e começámos a rezar o terço com o povo. Pouco depois, vimos o reflexo da luz e a seguir Nossa Senhora sobre a azinheira.

- Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, S. José com o Menino Jesus para abençoarem o Mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia.

- Têm-me pedido para Lhe pedir muitas coisas: a cura de alguns doentes, dum surdo-mudo.

- Sim, alguns curarei; outros não. Em Outubro farei o milagre, para que todos acreditem.

E começando a elevar-se, desapareceu como de costume.


Reflexão

Dos «Apelos da Mensagem de Fátima» (pp. 143 - 150):

«Continuem a rezar o Terço, para alcançarem o fim da guerra» (Nossa Senhora, 13 de Setembro de 1917).

A Mensagem pede que continuemos a rezar o Terço, que é a fórmula de oração que está mais ao alcance de todos, grandes e pequenos, ricos e pobres, sábios e ignorantes; todas as pessoas de boa vontade podem diariamente rezar o seu Terço.

Mas porque é que a Mensagem nos pede para continuarmos a rezar todos os dias o nosso Terço? Porque a oração é a base de toda a vida espiritual: se abandonarmos a oração, vem-nos a faltar aquela vida sobrenatural que é haurida no encontro da nossa alma com Deus, porque este encontro realiza-se na oração. Vede o que Jesus Cristo recomendou: «Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois, quem pede recebe e quem procura encontra; e ao que bate abrir-se-á» (Mt 7, 7-8). A oração é procura e encontro com Deus. Nós precisamos de procurar Deus para O encontrarmos, e a promessa lá está: «Quem procura encontra». Não é que Deus esteja longe de nós; nós é que nos afastamos de Deus e perdemos o sentido da Sua presença. Por isso, a Mensagem pede-nos a perseverança na oração, ou seja, que continuemos a rezar, para alcançar o fim da guerra.

Por certo que, no momento, a Mensagem referiu-se à guerra mundial que então afligia a humanidade. Mas esta guerra é também o símbolo de muitas outras guerras que nos cercam e das quais precisamos de conseguir o fim, com a oração e o nosso sacrifício. Penso nas guerras que nos movem os inimigos da nossa salvação eterna: o Demónio, o mundo e a nossa própria natureza carnal. (...)

Além das tentações do Demónio, temos as tentações do mundo que nos rodeia, sugestiona e ilude. Muitas vezes somos iludidos e enganados pelas vozes do mundo.

O mundo fala-nos de vaidades, riquezas, honras, modas, etc. Levados por estas vozes, queremos subir, parecer bem, atrair as atenções, ver-se cumulado de honras, possuir riquezas, passar por sábios, ocupar os primeiros lugares, mesmo à custa da justiça e da caridade. (...)

Como o Demónio e instigado pelos Demónios, o mundo rodeia-nos de inveja, ciúmes e ódio: «Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece» (Jo 5, 18-19).

Deixai que vos repita, em palavras minhas, o que diz a Mensagem: Continuai a rezar, para conseguirdes a paz, para alcançardes vitória sobre as tentações e as perseguições. (...)

Por isso, nos diz a Mensagem: Continuai a rezar o Terço para alcançar o fim da guerra.

domingo, 12 de setembro de 2010

«Procurá-l'O, encontrá-l'O, conhecê-l'O, amá-l'O»


Dos escritos de S. Josemaria Escrivá:

A vida interior robustece-se com a luta nas práticas diárias de piedade, que deves cumprir – mais ainda: que deves viver! – amorosamente, porque o nosso caminho de filhos de Deus é de Amor. (Forja, 83)

Neste esforço por nos identificarmos com Cristo, costumo falar de quatro degraus: procurá-lo, encontrá-lo, conhecê-lo, amá-lo. Talvez pareça que estamos na primeira etapa... Procuremo-lo com fome, procuremo-lo dentro de nós com todas as forças! Se o fizermos com este empenho, atrevo-me a garantir que já O encontrámos e que já começámos a conhecê-lo e a amá-lo e a ter a nossa conversa nos céus.

Procura cingir-te a um plano de vida com constância: alguns minutos de oração mental; a assistência à Santa Missa, diária, se te é possível, e a Comunhão frequente; o recurso regular ao Santo Sacramento do Perdão, ainda que a tua consciência não te acuse de qualquer pecado mortal; a visita a Jesus no Sacrário; a recitação e a contemplação dos mistérios do terço e tantas outras práticas excelentes que conheces ou podes aprender. (...)

Não te esqueças também de que o que é importante não é fazer muitas coisas; limita-te com generosidade àquelas que possas cumprir no dia-a-dia, quer te apeteça quer não. Essas práticas conduzir-te-ão, quase sem reparares, à oração contemplativa. Brotarão da tua alma mais actos de amor, jaculatórias, acções de graças, actos de desagravo, comunhões espirituais. E tudo isto, enquanto te ocupas das tuas obrigações: ao pegar no telefone, ao subir para um meio de transporte, ao fechar ou abrir uma porta, ao passar diante de uma igreja, ao começar um novo trabalho, ao executá-lo e ao concluí-lo. Referirás tudo ao teu Pai Deus. (Amigos de Deus, 300 e 149)


Fonte: OPUS DEI

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Natividade de Maria Santíssima



Que a Santíssima Virgem Maria - neste dia da Sua Natividade - visite amorosamente e maternalmente todos quantos desejam seguir fielmente as pegadas do Redentor, segundo a Vontade de Deus; os cubra com o Seu manto imaculado de Mãe e os conduza até à eternidade... Amen.

Só dizendo «sim» a Deus, como Maria,
encontraremos a felicidade aqui e eterna.

Nossa Senhora Menina...


Este título mariano deriva da festa celebrada hoje, que é o nascimento da Santíssima Virgem Maria. Por amor a humanidade, o Criador quis enviar o seu Filho, encarnado como pessoa humana para redimir o pecado da Terra. Para ser a mãe terrena do seu Filho, escolheu Maria, e preparou seu nascimento.

A família escolhida foi a de Joaquim, um justo e próspero judeu, obediente à Lei mosaica. Sua esposa era Ana, mulher judia íntegra, humilde e com todas as qualidades espirituais necessárias. Este casal, já com idade avançada, não tinha ainda sido abençoado com um filho, por isso julgavam-se estéreis. Foi este o lar escolhido para a ação da Providência Divina de modo que a Virgem Maria nascesse.

Tudo o que se tem narrado sobre a infância da Mãe de Deus, vem da tradição oral cristã, e dos escritos da época, que não fazem parte do Evangelho. Exceto o que está no Evangelho de São Mateus. Nele explica que a infância de Maria foi acompanhada de infinitas graças concedidas por Deus, para evidenciar "quão grande ela seria daqui por diante".

Pela tradição, aos três anos de idade Maria foi entregue para viver com as outras virgens nos apartamentos do Templo. Em seguida os pais concluíram seu voto e ofereceram seu sacrifício conforme a lei, voltando para casa. Nos catorze anos que alí esteve Maria ficou sob os cuidados do Senhor, para ser preservada de todas as tentações do mal. Ao final destes anos Maria tinha a beleza da alma abundante de todos os dons.

As imagens que representam a Nossa Senhora Menina, ou Criança são incontáveis Em algumas está só rodeada pelos anjos, em outras ladeada pelos pais, Sant'Ana e São Joaquim, ou então com um deles. Mas todas mostram Maria que segura na mão seu livro da lei. Tudo para indicar a posição de educadores dos pais, na preparação da escolhida para ser a Mãe de Deus.

O culto mariano faz parte da tradição dos fieis oficializado pela Igreja, tanto do Oriente como do Ocidente. Maria é e será venerada por todos os séculos, porque Ela é a estrada que conduz à Cristo, o único caminho para o Reino de Deus. Os cristãos, a homenageiam com uma infinidade de títulos, para celebrar sua valorosa participação no Mistério de Deus.


Fonte: Paulinas

sábado, 28 de agosto de 2010

Sto. Agostinho: santificado pela graça de Deus



Dos escritos autobiográficos - «Confissões» - de Sto. Agostinho:

«Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre as formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco! Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Porém, chamastes-me com uma voz tão forte que rompestes as minha surdez! Brilhastes, cintilastes e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes perfume: respirei-o, suspirando por Vós. Saboreei-Vos e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e ardi no desejo da vossa paz.

Quando estiver unido a Vós com todo o meu ser, em parte nenhuma sentirei dor e trabalho. A minha vida será então verdadeiramente viva, porque estará toda cheia de Vós. Libertais do seu peso aqueles que encheis. Porque não estou cheio de Vós, sou ainda um peso para mim.

As minhas alegrias, que deviam ser choradas, lutam com as tristezas, que me deviam incutir júbilo. Ignoro de que lado está a vitória. Ai de mim! Ó Senhor, tende piedade de mim! As tristezas do meu mal pelejam com os contentamentos bons, e não sei de que parte está o triunfo.

Ai de mim! Ó Senhor, tende compaixão de mim! Olhai, eu não escondo as minhas feridas. Vós sois o médico e eu o enfermo; sois misericordioso e eu miserável Não é a vida do homem, sobre a terra, uma contínua tentação? Quem deseja trabalhos e preocupações? Ordenais aos homens que as suportem e não que as amem. Ninguém ama o que lhe custa, ainda quando goste de o suportar, porque, apesar de se alegrar com o sofrimento, prefere não ter nada que sofrer. Nos reveses, anseio pela prosperidade, e nas coisas prósperas, temo a adversidade.

Entre estes dois extremos, qual será o termo médio onde a vida humana não seja tentação? Ai das prosperidades do mundo, repito, ai das prosperidades do mundo por causa do receio da desgraça e da corrupção da alegria! Ai das adversidades do mundo, uma duas e três vezes, por causa do desejo da prosperidade, por ser a desgraça dura e ameaçar destruir a paciência! Não é a vida humana sobre a terra uma tentação contínua?

Só na grandeza da Vossa misericórdia coloco toda a minha esperança. Dai-me o que ordenais e ordenai-me o que quiserdes».


«Criaste-nos para Vós, Senhor,
e o nosso coração não descansa
enquanto não repousar em Vós»


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Oásis no deserto...


Quando tivermos adquirido certo hábito da temperança e da renúncia aos pecados visíveis, produzidos pelos cinco sentidos, estaremos então aptos a guardar o coração com Jesus; aptos a receber Sua iluminação, saborear no espírito, com fervorosa ternura, as delícias de Sua bondade. A lei que nos ordena a purificar o coração não tem outra finalidade além de afastar as imagens dos maus pensamentos da atmosfera de nosso coração; dissipá-las através da atenção constante, de modo a podermos ver com nitidez, como em dia sereno, o Sol de verdade, Jesus, e a se iluminarem em nosso espírito os aspectos (as razões) de Sua Majestade. - Filoteu,o Sinaía in «Pequena Filocalia»

segunda-feira, 7 de junho de 2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Corpus Christi


Ó Corpo de Cristo!
presente no Sacrário em frente a mim,
perdoa a minha tibieza
esta cega indiferença
que tanto Te enche de tristeza...

Ó Sangue de Cristo!
que do lado trespassado brotou,
vem curar minhas feridas e dores,
consolar, derramar o Amor
santificar o que o pecado sujou...

Ó Alma do meu Deus!
à Tua semelhança me criáste.
Não permitas que de Ti me afaste
mas derruba-me num acto d' Amor...

Ó Divindade de Cristo!
santifica todo o meu ser,
faz-me Tua esposa fiel!

Ó Divina Trindade!
quero louvar-Te, amar-Te, adorar-Te
por toda a Eternidade!...

Tua,
.......

Fátima, 15.VI.2006



sábado, 22 de maio de 2010

Veni, Sancte Spiritus!


O amor de Deus é fogo que inflama

«No Antigo Testamento mandara Deus que o fogo ardesse sempre no seu altar. "O fogo no altar deve estar sempre aceso" (Lv 6, 12). São Gregório diz serem os nossos corações os altares de Deus nos quais  o fogo do amor divino deve arder sempre. Por isto não bastou ao eterno Pai mandar-nos Seu Filho Jesus Cristo que nos remisse por Sua morte: mas também quis dar-nos o Espírito Santo para morar nos nossos corações e os abrasar continuamente com Sua caridade. O próprio Jesus Cristo nos afirma que veio à terra para inflamar os nossos corações com este fogo santo e que nada tanto deseja como ver que arda em chamas: "Vim lançar fogo à terra e que quero senão que se acenda?" (Lc 12, 49). Esquece as ofensas e a ingratidão que recebeu dos homens na terra e, tendo subido ao céu, manda-nos o Espírito Santo. Assim, pois, nos amais, ó amável Redentor, na Vossa glória tanto quanto na vossa ignomínia e paixão.

Por isso o Espírito Santo desceu na forma de línguas ardentes no cenáculo sobre os discípulos. Pela mesma razão a Santa Igreja nos manda rezar: "Rogamo-Vos, Senhor, que o Espírito Santo nos inflame em aquele fogo que Nosso Senhor Jesus Cristo lançou a esta tera  e que deseja ver arder grandemente". Este santo fogo abrasava os santos para praticar feitos por Deus: amar os inimigos, desejar humilhaçõess, desapegar-se de todos os bens desta terra, suportar os tormentos do martírio e até a morte com alegria.

O amor não pode estar ocioso; nunca diz: Basta. Quanto mais uma alma amante de Deus faz, tanto mais vivo torna-se seu desejo de trabalhar mais ainda para merecer Sua complacência e Seu amor. Este fogo os inflama na oração contemplativa: "Quando contemplava, acendeu-se em mim o fogo" (Sl 38, 4). Querendo, pois, abrasar-nos no amor de Deus, devemos amar a oração contemplativa por ser a fornalha que em nós faz arder o fogo do amor divino.»   - Sto. Afonso Maria de Ligório


sexta-feira, 14 de maio de 2010

Viva o Papa!



Viva o Papa!!! Eis o grito eufórico de tantos jovens e adultos que entusiasmadamente se fizeram ouvir no recinto do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Tive a oportunidade de ver várias vezes o Santo Padre, bem próximo até, nomeadamente, no dia 12, na Capelinha das Aparições, onde eu, como catequista, estava a acompanhar os meus catequizandos no momento do acolhimento ao Santo Padre pelas crianças da Paróquia de Fátima. Foi um  momento emocionante, aquele em que os os meus olhos puderam contemplar o sucessor de Pedro e os meus ouvidos puderam escutar a oração - e consagração - que o nosso supremo pai na fé pronunciou de joelhos no altar, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima, ao Coração Imaculado de Maria. Passo a transcrevê-la:

Santo Padre:

Senhora Nossa
e Mãe de todos os homens e mulheres,
aqui estou como um filho
que vem visitar sua Mãe
e o faz na companhia
de uma multidão de irmãos e irmãs.
como sucessor de Pedro,
a quem foi confiada a missão
de presidir ao serviço
da caridade na Igreja de Cristo
e de confirmar a todos na fé
e na esperança,
quero apresentar ao vosso
Coração Imaculado
as alegrias e esperanças
e também os problemas e as dores
de cada um destes vossos filhos e filhas,
que se encontram na Cova da Iria
ou nos acompanham de longe.

Mãe amabilíssima,
Vós conheceis cada um pelo seu nome,
com o seu rosto e a sua história,
e a todos quereis com
a benevolência maternal
que brota do próprio coração de Deus Amor.
A todos confio e consagro a Vós,
Maria Santíssima,
Mãe de Deus e nossa Mãe.

Cantores e assembleia:

Nós Te cantamos e aclamamos, Maria. (v. 1)

Santo Padre:

O Venerável Papa João Paulo II,
que Vos visitou três vezes, aqui em Fátima,
e agradeceu a «mão invisível»
que o libertou da morte
no atentado de treze de Maio,
na Praça de São Pedro, há quase trinta anos,
quis oferecer ao Santuário de Fátima
uma bala que o feriu gravemente
e foi posta na vossa coroa de Rainha da Paz.
É profundamente consolador
saber que estais coroada
não só com a prata
e o oiro das nossas alegrias e esperanças,
mas também com a bala
das nossas preocupações e sofrimentos.

Agradeço, Mãe querida,
as orações e os sacrifícios
que os Pastorinhos
de Fátima faziam pelo Papa,
levados pelos sentimentos
que lhes infundistes nas aparições.
Agradeço também todos aqueles que,
em cada dia,
rezam pelo Sucessor de Pedro
e pelas suas intenções
para que o Papa seja forte na fé,
audaz na esperança e zeloso no amor.

Cantores e assembleia:

Nós Te cantamos e aclamamos, Maria. (v. 2)

Santo Padre:

Mãe querida de todos nós,
entrego aqui no vosso Santuário de Fátima,
a Rosa de Oiro
que trouxe de Roma,
como homenagem de gratidão do Papa
pelas maravilhas que o Omnipotente
tem realizado por Vós
no coração de tantos que peregrinam
a esta vossa casa maternal.

Estou certo que os Pastorinhos de Fátima,
os Beatos Francisco e Jacinta
e a Serva de Deus Lúcia de Jesus
nos acompanham nesta hora de prece e de júbilo.


Cantores e assembleia:

Nós Te cantamos e aclamamos, Maria. (v. 5)


Totus tuus, Maria!



segunda-feira, 26 de abril de 2010

Deus em nós, nós em Deus...


«No centro de nosso ser, existe um ponto como que vazio, intocado pelo pecado e pela ilusão, um ponto de pura verdade, um ponto, uma centelha que pertence inteiramente a Deus... Este pontinho "de nada" e de absoluta pobreza é a pura glória de Deus em nós... É como um diamante puríssimo, a brilhar na luz invisível do céu. Isso existe em todos os homens, e se pudéssemos vê-lo, veríamos esses milhões de pontos de luz a juntar-se na face e no ardor de um sol que faria desaparecer completamente toda a escuridão e toda a crueldade da vida...» (Thomas Merton, OCSO)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A Oração do Coração




Por Henri Nouwen

"A oração hesicástica, que leva ao descanso em que a alma habita com Deus, é a oração do coração. Para nós que damos tanta importância à mente, aprender a rezar com o coração e a partir dele tem importância especial. Os monges do deserto nos mostram o caminho. Embora não exponham nenhuma teoria sobre a oração, suas narrativas e seus conselhos concretos apresentam as pedras com as quais os autores espirituais ortodoxos mais tardios construíram uma espiritualidade magnífica. Os autores espirituais do monte Sinai, do monte Atos e os startsi da Rússia oitocentista apoiam-se todos na tradição do deserto. Encontramos a melhor formulação da oração do coração nas palavras do místico russo Teófano, o Recluso: "Rezar é descer com a mente ao coração e ali ficar diante da face do Senhor, omnipresente, omnividente dentro de nós". No decorrer dos séculos, essa perspectiva da oração tem sido central no hesicasmo Rezar é ficar na presença de Deus com a mente no coração, isto é, naquele ponto de nossa existência em que não há divisões nem distinções e onde somos totalmente um. Ali habita o Espírito de Deus e ali acontece o grande encontro. Ali, coração fala a coração, porque ali ficamos diante da face do Senhor, onividente, dentro de nós. É bom saber que aqui a palavra "coração" é usada em seu sentido bíblico pleno. em nosso meio, ela se tornou lugar-comum. Refere-se à sede da vida sentimental. Expressões como "coração partido" e "sentido no coração" mostram ser comum pensarmos no coração como o lugar quente onde se localizam as emoções, em contraste com o frio intelecto onde têm lugar nossos pensamentos. Mas, na tradição judeu-cristã, a palavra "coração" refere-se à fonte de todas as energias físicas, emocionais, intelectuais, volitivas e morais.

No coração, originam-se impulsos impenetráveis, além de sentimentos, disposições e desejos conscientes. O coração também tem suas razões e é o centro da percepção e do entendimento. Finalmente, ele é a sede da vontade: faz planos e chega a uma boa decisão. Assim, é o órgão central e unificador de nossa vida pessoal. Nosso coração determina nossa personalidade e é, portanto, não só o lugar onde Deus habita mas também o lugar ao qual Satanás dirige seus ataques mais ferozes. Esse coração é o lugar da oração. A oração do coração dirige-se a Deus a partir do centro da pessoa e, assim, afecta toda a nossa compaixão.

Um dos monges do deserto, Macário, o Grande, diz: "A tarefa principal do atleta (isto é, do monge) é entrar em seu coração". Isso não significa que o monge deva procura encher sua oração de sentimento; significa que deve esforçar-se para deixar que ela remodele toda a sua pessoa. O discernimento mais profundo dos monges do deserto é que entrar no coração é entrar no Reino de Deus. Em outras palavras, o caminho para Deus é pelo coração. Isaac, o Sírio, escreve:

"Procure entrar na câmara do tesouro... que está dentro de você e então descobrirá a câmara do tesouro do céu. Pois ambas são a mesma coisa. Se conseguir entrar em uma, você verá ambas. A escada para este Reino está escondida dentro de você, em sua alma. Se você purificar a alma, ali verá os degraus da escada que deve subir."

E João de Cárpato diz: "É preciso grande esforço e luta na oração para alcançar aquele estado da mente que é livre de toda perturbação; é um céu dentro do coração (literalmente 'intracardíaco'), o lugar onde, como o apóstolo Paulo assegura, "Cristo está em vós" (2Cor13,5).

Em suas falas, os monges do deserto nos indicam uma visão bastante holística de oração. Eles nos afastam de nossas práticas intelectuais, nas quais Deus se transforma em um dos muitos problemas com os quais temos de lidar. Mostram-nos que a verdadeira oração penetra no âmago de nossa alma e não deixa nada sem tocar. A oração do coração não nos permite limitar nosso relacionamento com Deus a palavras interessantes ou emoções piedosas. Por sua própria natureza, essa oração transforma todo o nosso ser em Cristo, precisamente porque abre os olhos de nossa alma à verdade de nós mesmos e também à verdade de Deus. Em nosso coração passamos a nos ver como pecadores abraçados pela misericórdia de Deus. É essa visão que nos faz clamar: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, tem misericórdia de mim, pecador". A oração do coração nos exorta a não esconder absolutamente nada de Deus e a nos entregar incondicionalmente a sua misericórdia.

Assim, a oração do coração é a oração da verdade. Desmascara as muitas ilusões sobre nós mesmos e sobre Deus e nos conduz ao verdadeiro relacionamento do pecador com o Deus misericordioso. Essa verdade é o que nos dá o "descanso" do hesicasta. Quando ela se abriga em nosso coração, somos menos distraídos por pensamentos mundanos e nos voltamos mais sinceramente para o Senhor de nossos corações e do universo. Assim, as palavras de Jesus: "Felizes os corações puros: eles verão a Deus" (Mt 5,8) tornam-se reais em nossa oração. As tentações e as lutas continuam até o fim de nossas vidas, mas com um coração puro ficamos tranquilos, mesmo em meio a uma existência agitada.

Isso levanta o problema de como praticar a oração do coração em um ministério bastante agitado. É a essa questão de disciplina para a qual precisamos agora voltar a atenção.

Oração e Ministério

Como nós, que não somos monges nem vivemos no deserto, praticamos a oração do coração? Como ela influencia nosso ministério quotidiano?

A resposta a essa pergunta está na formulação de uma disciplina definitiva, uma regra de oração. Há três características da oração do coração que nos ajudam a formular essa disciplina:

A oração do coração alimenta-se de orações breves e simples.
A oração do coração é incessante.
A oração do coração inclui tudo.

Alimenta-se de Orações Breves

No contexto de nossa cultura verbosa, é significativo ouvir os monges do deserto nos aconselhando a não usar palavras em excesso:

"Perguntaram ao abá Macário: 'Como se deve rezar?' O ancião respondeu: 'Não há, em absoluto, necessidade de fazer longos discursos; basta estender a mão e dizer: Senhor, como queres e como sabes, tem misericórdia. E se o conflito ficar mais ameaçador, dizer: Senhor, ajuda. Ele sabe muito bem do que precisamos e nos mostra sua misericórdia'".

João Clímaco é ainda mais explícito:

"Quando rezar, não procure se expressar em palavras extravagantes pois, quase sempre, são as frases simples e repetitivas de uma criancinha que nosso Pai do céu acha mais irresistíveis. Não se esforce em muito falar, para que a busca de palavras não lhe distraia a mente da oração. Uma única frase nos lábios do colector de impostos foi suficiente para lhe alcançar a misericórdia divina; um pedido humilde feito com fé foi suficiente para salvar o bom ladrão. A tagarelice na oração sujeita a mente à fantasia e à dissipação; por sua natureza, as palavras simples tendem a concentrar a atenção. Quando encontrar satisfação ou contrição em determinada palavra de sua oração, pare nesse ponto".

Essa é uma sugestão muito útil para nós que tanto dependemos da capacidade verbal. A tranquila repetição de uma única palavra ajuda-nos a descer com a mente ao coração. Essa repetição nada tem a ver com mágica. Não tem o propósito de enfeitiçar Deus, nem de forçá-lo a nos ouvir. Pelo contrário, uma palavra ou sentença repetida com frequência ajuda-nos a nos concentrar, a nos mover para o centro, a criar uma tranquilidade interior e, assim, a ouvir a voz de Deus. Quando simplesmente tentamos ficar sentados em silêncio e esperar que Deus nos fale, nos vemos bombardeados por intermináveis pensamentos e ideias conflituantes. Mas quando usamos uma sentença bastante simples como: "Ó Deus, vem em meus auxílio", ou "Jesus, mestre, tem piedade de mim", ou uma palavra como "Senhor" ou "Jesus", é mais fácil deixar as muitas distracções passarem sem nos deixarmos iludir por elas. Essa oração simples, repetida com facilidade, esvazia aos poucos nossa vida interior apinhada e cria o espaço sossegado onde habitamos com Deus. É como uma escada pela qual descemos ao coração e subimos a Deus. Nossa escolha de palavras depende de nossas necessidades e das circunstâncias do momento, mas é melhor usar palavras da Escritura.

Quando somos fiéis a essa oração simples e a praticamos com regularidade, ela nos conduz devagar a uma experiência de descanso e nos abre à presença activa de Deus. Além disso, em um dia muito atarefado, podemos levar essa oração connosco. Quando, por exemplo, passamos, no início da manhã, 20 minutos sentados na presença de Deus com as palavras: "O Senhor é meu pastor", elas lentamente constroem em nosso coração um pequeno ninho para si mesmas e ali ficam o restante de nosso dia atarefado. Até enquanto falamos, estudamos, cuidamos do jardim ou construímos alguma coisa, a oração continua em nosso coração e nos mantém conscientes da orientação omnipresente de Deus. A disciplina não é agora dirigida para um discernimento mais profundo do que significa chamar Deus de nosso Pastor, mas para a íntima experiência da acção pastoral de Deus em tudo que pensamos, dizemos ou fazemos.

Incessante

A segunda característica da oração do coração é ser incessante. A pergunta de como seguir a ordem de Paulo: "Orai incessantemente" foi fundamental no hesicasmo desde a época dos monges do deserto até a Rússia oitocentista. Há muitos exemplos desse interesse nos dois extremos da tradição hesicástica. (Vejamos um dos principais:)

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Na famosa história do Peregrino Russo lemos:
"Pela graça de Deus sou cristão, mas pelas minhas acções sou um grande pecador... No vigésimo quarto domingo depois de Pentecostes, fui à igreja para ali fazer minhas orações durante a liturgia. Estava sendo lida a primeira Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses e, entre outras palavras, ouvi estas: 'Orai incessantemente' (1Ts 5,17). Foi esse texto, mais que qualquer outro, que se inculcou em minha mente, e comecei a pensar como seria possível rezar incessantemente, já que um homem tem de se preocupar também com outras coisas a fim de ganhar a vida".

O camponês foi de igreja em igreja, para ouvir sermões, mas não encontrou a resposta que queria. Finalmente, encontrou um santo staretz que lhe disse:

"A oração interior incessante é um anseio contínuo do espírito humano por Deus. Para sermos bem-sucedidos nesse exercício consolador, precisamos suplicar com mais frequência a Deus que nos ensine a rezar sem cessar. Rezar mais e rezar com mais fervor. É a própria oração que lhe revela como rezá-la sem cessar; mas leva algum tempo".

Então, o santo staretz ensinou ao camponês a Oração de Jesus: "Senhor Jesus Cristo, tem misericórdia de mim". Enquanto viajava como peregrino pela Rússia, o camponês passou a repetir essa oração com os lábios. Até considerava a oração de Jesus sua companheira verdadeira. E, então, um dia, teve a sensação de que a oração passou sozinha de seus lábios para seu coração. Ele diz:

"... parecia que, pulsando normalmente, meu coração começava a dizer as palavras da oração a cada batida... Desisti de dizer a oração com os lábios. Passei simplesmente a ouvir o que meu coração dizia".
Aqui aprendemos outro jeito de chegar à oração incessante. A oração continua a rezar dentro de mim, até enquanto falo com os outros ou me concentro no trabalho manual. Ela se torna a presença activa do Espírito de Deus que me guia pela vida.

Desse modo vemos como, pela caridade e pela actividade da oração de Jesus em nosso coração, nosso dia todo se transforma em oração contínua. Não sugiro que imitemos o peregrino russo, mas que, também nós, em nosso ministério atarefado, nos preocupemos em rezar sem cessar, para que, seja o que for que comamos ou bebamos, seja o que for que façamos o façamos pela glória de Deus. (Veja 1Cor 10,31). Amar e trabalhar pela glória de Deus não pode permanecer uma ideia sobre a qual pensamos de vez em quando. Deve se tornar uma incessante doxologia interior.

INCLUI TUDO

Uma última característica da oração do coração é que ela inclui todos os nossos interesses. Quando entramos com a mente no coração e ali ficamos na presença de Deus, então todas as nossas preocupações mentais se transformam em oração. O poder da oração do coração é precisamente que, por meio dela, tudo que está em nossa mente se transforma em oração.

Quando dizemos a alguém: "Vou rezar por si", assumimos um compromisso muito importante. É uma pena que esse comentário muitas vezes não passe de uma expressão de interesse. Mas, quando aprendemos a descer com nossa mente em nosso coração, todos os que fazem parte de nossa vida são guiados à presença curativa de Deus e tocados por ele no centro de nosso ser. Falamos aqui de um mistério para o qual palavras são inadequadas. É o mistério em que o coração, centro de nosso ser, é transformado por Deus em seu coração, um coração grande o bastante para abraçar todo o universo. pela oração, carregamos em nosso coração toda a dor e tristeza humanas, todos os conflitos agonias, toda a tortura e a guerra, toda a fome, solidão e miséria, não por causa de alguma grande capacidade psicológica ou emocional, mas porque o coração de Deus uniu-se ao nosso.

Aqui vislumbramos o sentido das palavras de Jesus:
"Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque eu sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas. Sim, o meu jugo é fácil de carregar, e o meu fardo é leve" (Mt 11,29-30).

Jesus nos convida a aceitar seu fardo, que é o do mundo todo, um fardo que inclui o sofrimento humano em todos os tempos e lugares. Mas esse fardo divino é leve e podemos carregá-lo quando nosso coração se transforma no coração manso e humilde de nosso Senhor.

Vemos aqui o íntimo relacionamento entre oração e ministério. A disciplina de conduzir todo o nosso povo com suas lutas ao coração manso e humilde de Deus é a disciplina de oração e também do ministério. Enquanto o ministério significar apenas que nos preocupamos muito com as pessoas e seus problemas; enquanto significar um número interminável de actividades que dificilmente conseguimos coordenar, ainda dependeremos muito de nosso coração tacanho e ansioso. Mas quando nossas preocupações são elevadas ao coração de Deus e ali se transformam em oração, ministério e oração se tornam duas manifestações do mesmo amor universal de Deus.

Vimos como a oração do coração se nutre de orações breves, é incessante e inclui tudo. Essas três características mostram como a oração do coração é o alento da vida espiritual e de todo o ministério. Na verdade, essa oração não é apenas uma actividade importante, mas o próprio centro da nova vida que queremos representar e na qual queremos iniciar nosso povo. As características da oração do coração deixam claro que ela exige uma disciplina pessoal. Para levar uma vida de oração não podemos passar sem orações específicas. Precisamos dizê-las de uma forma que nos ajude a ouvir melhor o Espírito que reza em nós. Precisamos continuar a incluir em nossa oração todas as pessoas com as quais e para as quais vivemos e trabalhamos. Essa disciplina vai nos ajudar a passar de um ministério entontecedor, fragmentário e muitas vezes frustrante para um ministério integrador, holístico e muito gratificante. Ela não vai facilitar o ministério, mas simplificá-lo; não vai torná-lo doce e piedoso, mas sim espiritual; não vai fazê-lo indolor e sem lutas, mas tranquilo no verdadeiro sentido hesicástico."



domingo, 11 de abril de 2010

Festa da Divina Misericórdia


O Diário de Irmã Faustina contém pelo menos quinze ocasiões nas quais se refere ao pedido do Senhor para que fosse estabelecida em toda a Igreja, oficialmente, a "Festa da Misericórdia". Ele disse:

"Desejo que a Festa de Misericórdia seja refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pecadores. Nesse dia estão abertas as entranhas da minha Misericórdia. Derramo todo o mar de graças nas almas que se aproximarem da fonte da minha Misericórdia. A alma que se confessar e comungar alcançará o perdão das culpas e castigos. (indulgência plenária) Nesse dia estão abertas todas as comportas divinas, pelas quais fluem as graças.

Que nenhuma alma tenha medo de se aproximar de Mim, ainda que seus pecados sejam como escarlate... A Festa da Misericórdia saiu das minhas entranhas... Desejo que seja celebrada solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa. A humanidade não terá paz enquanto não se voltar à fonte da minha Misericórdia." (Diário nº.699)

Jesus também pediu que a Festa da Divina Misericórdia fosse precedida por uma Novena à Divina Misericórdia, a ser iniciada na Sexta-Feira Santa. Ele deu a Irmã Faustina uma intenção pela qual rezar a cada dia da Novena. Em seu diário, Irmã Faustina relata que Jesus lhe disse:

"Em cada dia da novena, conduzirás ao Meu coração um grupo diferente de almas, e as mergulharás no oceano da minha Misericórdia. Eu conduzirei todas as almas à casa do meu Pai... Por minha parte, nada negarei a nenhuma daquelas almas que tu conduzirás à fonte da minha Misericórdia. Cada dia pedirás a meu Pai, pela minha amarga Paixão, graças para essas almas." (Diário nº.1209)

Fonte: http://www.derradeirasgracas.com